Nestas
primeiras histórias da autora, você já percebe suas inclinações
para criar tramas cotidianas e de viés psicológico / filosófico.
Neste conto, ela
reduz o escopo da narrativa e nos coloca diante de um microscópio, numa tentativa de vermos o interior de seus personagens.
O
leitor dá de cara com a vida em andamento, sabemos apenas que os
dois personagens que nos conta esta história, é uma moça de 22
anos , cheia de vida e seu crush, moreno alto, soturno e de
movimentos lentos e repetitivos, profundamente analítico e
depressivo chamado W.
A
primeira cena se dá entre uma xícara de café e outra e W
dizendo como ele vive uma vida destrutiva. Nossa personagem de 22
anos, leitora ávida e dona de uma imaginação efervescente, responde de
forma despreocupada as indagações de seu amigo angustiado.
Ele era triste e alto. Jamais falava comigo que não desse a entender que seu maior defeito consistia na sua tendência para a destruição. E por isso, dizia, alisando os cabelos negros como quem alisa o pelo macio e quente de um gatinho, por isso é que sua vida se resumia num monte de cacos
Um
elemento comum na escrita da autora , é o fato de em seus livros nos jogar na área do
desconforto.
Ficamos de cara, com a falta de empatia da personagem, que esbanja alegria desmedida e tratando a dor do outro como se nada fosse (olha o desconforto ai).
Ficamos de cara, com a falta de empatia da personagem, que esbanja alegria desmedida e tratando a dor do outro como se nada fosse (olha o desconforto ai).
Isso
me traz para a vida real, quando nos deparamos com situações
semelhantes e não somos capazes de esboçar nenhuma forma de
percepção, empatia ou mesmo interesse. Afinal, já temos nossos próprios problemas e não temos tempo para dar algum tipo de suporte
ao outro.
Clarice
nos golpeia e assim desmascara nossa displicência e nossa falta de
humanidade.
Por
muitas vezes ouvimos histórias de mães e esposas… Que não
perceberam que tinha algo de muito errado com a pessoa que eles
conviviam todos os dias. E nós, de fora, somos os primeiros a
acusar.
Somos hipócritas, sempre queremos atitudes positivas das pessoas, mas não damos o mínimo em nossas relações (não queremos mudar, não queremos ter trabalho).
Somos hipócritas, sempre queremos atitudes positivas das pessoas, mas não damos o mínimo em nossas relações (não queremos mudar, não queremos ter trabalho).
Com efeito, homens como W... passam a vida à procura da verdade, entram pelos labirintos mais estreitos, ceifam e destroem metade do mundo sob o pretexto de que cortam os erros, mas quando a verdade lhes surge diante dos olhos é sempre inopinadamente. Talvez porque tenham tomado amor à pesquisa, por si mesma, e se tornem como o avarento que acumula, acumula, apenas, esquecido da primitiva finalidade pela qual começou a acumular. O fato é que com W... eu só conseguiria qualquer coisa, pondo-o em estado de choque.
O
que ficou deste texto para mim foi – Vamos apreender a exercitar o
nosso olhar em direção ao outro e quem sabe possamos perfurar toda
a forma de superficialidade da maioria de nossas relações interpessoais.
Leiam a resenha da minha parceira de Projeto Silvia no Blog Reflexões e Angústias
Leiam a resenha da minha parceira de Projeto Silvia no Blog Reflexões e Angústias
Clarice Lispector - Todos os Contos
Editora Rocco
Editora Rocco
Capa Dura - Pgs 656
Organizador - Benjamin Moser
Olá, Marcia!
ResponderExcluirAcho que fizemos análises bastante diferentes sobre esse conto... cada uma de nós olhou para ele de uma forma.
Beijo!
Eu estava esperando chegar ao conto em que nós duas iríamos seguir caminhos opostos rs. Acho muito rica essa troca.
ExcluirHug
Interessante o conto, bem realístico mesmo. Quando comecei a ler a resenha pensei que a personagem da menina jovem e divertida iria aos poucos, vendo que poderia ajudar de alguma forma, o seu amigo W. Mas que pena que ela não faz isso, pelo visto. O que torna o conto mais real, infelizmente - e isso pelo fato da realidade ser triste nesse aspecto.
ResponderExcluirLavinia, eu também esperava algo desta personagem, mas faltou sensibilidade da parte dela, assim como falta da maioria das pessoas com o outro.
ExcluirObrigada por estar junto comigo e Clarice
Hug
Oi Márcia, admito que me chocou a indiferença da garota, mas o pior é saber que também somos assim muitas vezes. Não sei, de certa forma parece que ela acha até bem feito ele sofrer, como uma resposta pra procura constante. Esse conto me fez pensar em até que ponto eu posso ser como ela sem notar, a linha da empatia é muito tênue. Beijos
ResponderExcluirJade, este conto fala muito sobre achar o sofrimento do outro banal.
ResponderExcluirIsso já é uma forma de indiferença.
É realmente vivemos para nós mesmos, são raras as pessoas que praticam a empatia.
Hug
Oi Marcia, Gostei muito desse conto, ele me fez pensar o quanto de empatia tenho em mim rs Tentando acompanhar o projeto mesmo que atrasada Bjo
ResponderExcluirCamila sarcástica rs.
ExcluirHug