29 outubro, 2016

PJ - Clarice Lispector - Conto 06 - A Fuga







Neste sexto conto, borá continuar na categoria relacionamentos.
Num dia de muita chuva e frio nossa personagem que é casada à 12 anos, toma uma decisão.
Irá embora, é isso.




Há doze anos era casada e três horas de liberdade restituíam-na quase inteira a si mesma: – primeira coisa a fazer era ver se as coisas ainda existiam.




Neste pequeno recorte de tempo, ela se depara com o mar e suas águas profundas, enigmáticas e incertas. Lembra-se de suas confabulações quando criança, sorri. 
Quantos anos faz que ela não tem essa liberdade?. Seu marido a tolhia, até nos pensamentos mais fúteis e banais. Sua presença a fazia menor, um serzinho sem importância e sem vontades. Caindo num loop infinito de mesmice.




Agora está com fome. Há doze anos não sente fome. Entrará num restaurante. O pão é fresco, a sopa é quente. Pedirá café, um café cheiroso e forte. Ah, como tudo é lindo e tem encanto. O quarto do hotel tem um ar estrangeiro, o travesseiro é macio, perfumada a roupa limpa. E quando o escuro dominar o aposento, uma lua enorme surgirá, depois dessa chuva, uma lua fresca e serena. E ela dormirá coberta de luar...




Caminhando com vocês, nestas primeiras histórias da autora, é interessante perceber como ela toca à todos os variados tipos de pessoas existentes.
Quem nunca em algum momento da vida , quis estar em outra lugar, em outra situação? Ou mesmo desejou ser outra pessoa?.



Todos nós gostaríamos de simplesmente sair das situações que nos causam sofrimento. Mas somos adultos e bem sabemos que muitas vezes esta “fuga” se dá apenas em nossa mente. Ninguém fica sabendo desses intentos frustrados por algum obstáculo que não podemos superar naquele momento.




A grande questão neste conto, é como viver com essa decisão mental, sendo que você ainda está refém desta situação limitante?.


Ah, Clarice, você não tem dó de seus leitores hein. 
Bem, acho que a vida também não.




Leiam a resenha da minha parceira de Projeto  Silvia no Blog Reflexões e Angústias
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Clarice Lispector - Todos os Contos
Editora Rocco 
Capa Dura - Pgs 656
Organizador - Benjamin Moser


Marcia Cogitare





13 comentários:

  1. Esse conto falou muito comigo, Márcia...
    Às vezes, eu acho que a maioria das mulheres casadas se sente um pouco assim, mesmo quando não confessa. Eu me sentia exatamente assim... E romper tudo quando se é dependente do outro, quando não se é dona do próprio destino, é algo que exige demais.
    A Clarice é absolutamente fantástica!
    Quanto mais leio os textos dela, mais admiro sua capacidade de descrever as dores da alma...
    Beijo grande!

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    1. Silvia, Clarice é mesmo fantástica.
      Ela consegue pegar uma situação cotidiana e dar uma profundidade abissal. Sempre saio surpreendida de seus textos.

      E vc falou sobre confessar, e aqui é confessar pra si mesma. Pq esta verdade não pertence ao outro.

      Clarice nunca nos deixa impunes depois da leitura

      Hug

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  2. Isso mesmo... confessar para si mesma...

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  3. Acho que esse conto toca todo mundo mesmo. E não precisa ser necessariamente sobre o relacionamento, que aparentemente é bem ruim, mas sim, pelo fato de que todo mundo já viajou nessa de querer "sair" pra fora do corpo. Eu já tive isso rs Mas nem sempre é por momentos difíceis, é mais por imaginar como seria. Imaginar é uma coisa fantástica!

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    1. Ah, Lavinia vejo que você tem uma mente bem abstrata, ousada.
      Você e Clarice se dariam muito bem :D

      Hug

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    2. Seria realmente fantástico poder ter a conhecido. Vi o vídeo da entrevista que ela deu para a Cultura e achei ela muito interessante. Na verdade nem sei qual palavra define aquela mulher de mente brilhante.

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    3. Lavinia, vou te contar um sonho que tive uns anos atrás.
      Sonhei que chegava no céu e tinha uma fila imensa e alguém com uma prancheta na mão. E eu só soltei - Vc poderia me dizer onde está Clarice Lispector? rs. Sonho de gente maluca rs.

      Clarice é singular, ou vc ama ou odeia, sem meio termo.

      Hug :D

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  4. Oi Márcia, esse conto só me fez pensar em até que ponto nós colocamos nossas correntes. O que essa mulher queria eram coisas simples que ela foi aceitando se privar pelo casamento, aceitando a imposição do marido e entregando a outro o controle da sua própria liberdade. Beijos

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    1. Jade, este conto e tão tenso. Vc fica num medo de cometer os mesmos erros e se deixar levar de pouco em pouco, até que sua liberdade é sugada pelo Ralo e nada mais sobra, a não ser dor e sofrimento.

      Hug lindona

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  5. Ah autora fantástica, como eu queria ser como a sua criação e poder voar para longe sem me preocupar com ninguém :/

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    1. Daiani, Clarice é fantástica como vc mesma disse e que bom que vc tem curtido os contos.

      Hug

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  6. Esse conto também falou comigo ... querer fugir... quem nunca? Bjo

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    1. Camila, querer fugir ou ser outra pessoa já passou pela cabeça de todo mundo em algum momento da vida.

      Hug

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:) :( ;) :D :-/ :P :-O X( :7 B-) :-S :(( :)) :| :-B ~X( L-) (:| =D7 @-) :-w 7:P \m/ :-q :-bd

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