16 novembro, 2016

PJ Clarice Lispector - Conto 11 - Devaneio e embriaguez duma rapariga








Este 11º conto foi complicado de interpretar e mais ainda escrever sobre ele.
Como diz o título são devaneios de uma moça , portuguesa jovem casada e com filhos e que mora no Brasil.


Num dia que os filhos estão na casa da tia, ela resolve tirar um dia só pra ela, sair da rotina de dona de casa e mãe. Então ela resolve passar o dia inteiro na cama, conciliando o sono e os pensamentos inúteis e desconexos.



Seu marido chega em casa e a vê dormindo. Ele se vira na cozinha e come o resto da janta do dia anterior.
Mais tarde quando chega do trabalho, encontra sua mulher no mesmo estado de torpor e acredita que esteja doente.




Ela aceitou surpreendida, lisonjeada. Durante o dia inteiro ficou-se na cama, a ouvir a casa tão silenciosa sem o bulício dos miúdos, sem o homem que hoje comeria seus cozidos pela cidade. Durante o dia inteiro ficou-se à cama. Sua cólera era tênue, ardente. Só se levantava mesmo para ir à casa de banhos, donde voltava nobre, ofendida



Chega o fim de semana e ambos vão ao um restaurante. Esta bebe e chega à embriaguez, onde sua mente alça voo , e seus pensamentos afloram com mais intensidade.
Ela resolve rivalizar com uma loira de chapéu pomposo e com cara de santa, sentada ao lado de um homem amarelo , numa das mesas do restaurante (mulher realmente é um ser competitivo, ainda que não demonstre publicamente).



Acordou com o dia atrasado, as batatas por descascar, os miúdos que voltariam à tarde das titias, ai que até me faltei ao respeito!, dia de lavar roupa e cerzir as peúgas, ai que vagabunda que me saíste!, censurou-se curiosa e satisfeita, ir às compras, não esquecer o peixe, o dia atrasado, a manhã pressurosa de sol



A princípio foi um conto esquisitíssimo de se ler, é como se o leitor estivesse dentro da cabeça deste personagem e presenciasse os pensamentos desordenados. De fato , é um dialogo mental todo próprio, e que só faz sentido para a própria personagem.



Tive um insight sobre a realidade desta personagem.
As mulheres que são mães e donas de casa (e que desempenham mais um milhão de outros papéis), acabam por serem engolidas pela rotina e por suas responsabilidades. Esquecem-se de si mesmas para cuidar dos outros, cobram -se demais e não se permitem cometer algum excesso ou mesmo algum pensamento fora do seu script diário.
Não é atoa que essas mulheres são acometidas de grande carga de estresse e até outras doenças advindas deste estilo de vida frenético.



Talvez estas mulheres devam seguir o exemplo de nossa personagem, que encontrou um lugar para desopilar e dar uma respirada para voltar as suas responsabilidades. 



Não se esqueçam de visitar o blog da Silvia - Reflexões e Angústias, ela deu seu parecer sobre este conto. Para ler só Clicar Aqui




*Conto pertencente ao livro - Laços de Família






Clarice Lispector - Todos os Contos
Editora Rocco - Capa Dura - Pgs 656
Organização - Benjamin Moser



Marcia Cogitare





8 comentários:

  1. É bem isso mesmo, Márcia...
    A gente vive nessa rotina maluca e muitas mulheres-mães se sentem culpadas ao destinarem um tempo pra si mesmas...
    Beijo!

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    1. Silvia, é preocupante o estado mental e físico de mães que têm que desempenhar múltiplos papéis e muitas vezes sem a parceria do marido. Não é fácil.

      Hug

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  2. O conto só mostra uma realidade que é viva até hoje, e ainda pior! Porque além de cuidar da família, casa e filhos, a mulher tem que ser a imagem da perfeição com o corpo perfeito e bem sucedida na vida, como os comerciais mostram apenas aquelas que usam terninho. É muito preocupante esse estilo de vida, não é à toa que a personagem tira um dia de folga e pelo que notei, acha inusitado. Acho que isso acontece porque as mulheres que desempenham tantos papéis não possuem uma ajuda =/

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    1. Lavinia, parece que ainda criamos os garotos para serem filhos a vida toda. A grande maioria dos homens brasileiros não se comportam como marido, mas como filhos mimados.

      Isso prejudica muito o casamento. A mulher acaba ficando sobrecarregada.

      Hug

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    2. Nossa isso é péssimo. E eles nem enxergam isso. É realmente uma pena. Nesse caso, melhor ficar sozinha do que mal acompanhada. Digo, para as mulheres que tem maridos que são como filhos, como vc mesma disse.

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  3. Lavinia, é bem isso mesmo, eles nem se dão conta disso. Foram criados a vida toda assim, é meio automático né. Mas sempre bom mudar e crescer, ainda mais num relacionamento à dois.

    E a culpa maior disso, é das mulheres que criam os meninos para serem uns idiotas.

    Hug

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  4. Oi Márcia, só consigo pensar se ser mulher não é fácil hoje imagine para algumas como essa jovem no passado. Ela sofria com a distância da terra, com a tarefa de cuidar da família e da casa, o conto parece confuso como a própria cabeça dela. Beijos

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    1. Jade, o baguio é loko.
      Ser mulher vai demorar para se tornar algo fácil, mas aos poucos vamos conseguindo nos mostrar da melhor forma em nossa geração mais consciente de seu papel.

      Este conto é maluquinho mesmo rs.

      Hug

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