09 agosto, 2015

Viva a Música!


Viva a música! é a história da viagem iniciática da adolescente María del Carmen pela cidade de Cáli, uma Cáli apocalíptica, tropical e alucinada, fruto do prodigioso imaginário literário de Andrés Caicedo. María é uma garota de classe média, é “loira, loiríssima”, orgulhosa da própria beleza e de seu cabelo comprido, possuída por uma energia vital inesgotável, determinada a não abrir mão da própria liberdade, apaixonada pela salsa, o rock, as baladas, por garotas e garotos, pelo álcool e as drogas. A poderosa voz de María é o fio condutor do livro através de um monólogo excessivo, surtado, com letras de músicas misturadas com suas reflexões e contrareflexões, e acompanha o leitor em um verdadeiro tour de force, sem lhe dar tréguas até o final, em um crescendo cada vez mais autodestrutivo mas profundamente tocante. Há violência, há suicídios, mortes, gangues, baladas e mais baladas. No entanto, é uma voz sempre lírica, nunca vulgar, pela qual será impossível não se apaixonar.











Andrés Caicedo
Rádio Londres
220 - Páginas



Para acompanhar a leitura da resenha, sugiro a trilha sonora psicodélica do Led Zeppelin









María del Carmen é uma adolescente de classe média que vive em Cáli - Colômbia da década de 60.



Ela se descreve como uma pessoa de energia frenética e loira, loiríssima, que cai nas baladas comendo a noite com a alma e com os olhos.



Aqui vemos que a própria María nos conduz numa narrativa fragmentada, psicodélica e por vezes lírica\lúdica, muitas vezes sem qualquer pretensão de localizar o leitor com o que de fato está acontecendo, não existem uma ordem muito bem definida , simplesmente é a vida acontecendo diante dos olhos.



Talvez para leitores mais metódicos este tipo de narrativa seja um desafio, o tentar acompanhar a vida desta garota que tem uma grande fome de viver, mas que opta por caminhos nada promissores, mas ao mesmo, como ela mesma vem dizer, é o que havia para a sua geração, talvez não fosse possível viver de outra forma menos intensa e destrutiva.



A música ocupa um papel proeminente na narrativa , tanto que durante toda a leitura vemos vários músicos sendo citados e suas canções.

A música como linguagem, quando a gramática perde a força e a capacidade de comunicar a interioridade.



Me lembrei muito da literatura beat, tem uma mesma pegada de drogas, festas e piração, uma vida vivida no presente a todo o vapor.



Por muitos momentos invejei a protagonista, imaginei que para este tipo de vida é preciso muita coragem, coragem até mesmo para se perder (claro que não estou falando da parte negativa da coisa, como as drogas e outros vícios...).



Me questionei como temos vidas apáticas e sem o mínimo de vibração e sentido, não acreditamos em nada tão profundamente que possa nos pedir tal envolvimento e desgaste.



Caicedo também dá um tapa na cara do velho filósofo Platão, onde tinha o corpo como algo limitador (corpo como prisão da alma), aqui o corpo é resgatado para sentir a vida e dialogar com ela de forma orgânica.



Este livro de Caicedo é muito mais uma experiencia , do que literatura como uma forma toda certinha e aceitável nos moldes mais rígidos da acadêmia, é um grito de vida, de desespero e não se sabe ao certo o que se busca e o que se deseja.





Alguns Quotes



“Então vamos lá: a maconha me dava uma coisa pesada no estomago, uma sensação inútil, ódio, desatar a falar sem parar, preguiça, insônia; depois vinham aqueles riozinhos de fogo escavando como centopeias , pequenos e mordendo meu cérebro (ali percebi que eu tinha um cérebro) um gosto melancólico na boca, pernas bambas e pontadas nas virilhas de vez em quando”



“Sou uma fanática pela noite . Sou uma noctívaga. O que eu posso fazer”



“...Eu o vi se afastando-se, rápido e desajeitado. Nunca teve espírito coletivo. Nunca compreendeu os grupos”



“Eu, seu tonto. Acabo de descobrir a maravilha da salsa. Precisamos sabotar o rock para continuar vivos”




“E agora ela corria pelo meu corpo – para fugir dela mesma no meu corpo?. Eu também fugia, queria me perder, mas a nossa fuga era em vão. Para fugir de verdade seria preciso arrancar fora a própria cabeça ”






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Marcia Cogitare



17 comentários:

  1. o livro é bem curiosa mas mesmo assim nao me interessou, confesso que achei um pouco sem graça, acho que por nao ser o meu estilo de livro, fica para próxima.

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    1. Qual é seu estilo de livro, Emanoelle?
      Fiquei curiosa
      :)

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  2. Nós amamos música, né Marcia?
    Então, talvez possamos sentir um livro assim com maior intensidade.
    Ler livros que contem trilhas sonoras, letras de música e afins me deixa ligadona no livro.
    Queria entender melhor o que você descreveu como sendo "fragmentada, psicodélica e por vezes lírica\lúdica" a respeito da escrita da autora.
    Fiquei curiosíssima com o livro.
    Beijos sua linda!
    Sua resenha está maravilhosa e instigante!
    =D7

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    1. Telma, a personagem do livro é vida loka, por isso a escrita reflete as viagens das drogas, onde tudo se confunde o lúdico, lírico, fluxo de consciência, este livro é uma experiencia, não uma simples leitura.

      Obrigada pelos elogios, é muito bacana ver que vc curtiu a indicação.

      Hug :D

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  3. Bem diferente Marcia, sua resenha também ficou ritmada, não sei se foi proposital ou se fez e não percebeu o que fez, mas fez. Não sei se leria, mas fiquei a pensar sobre Platão x o pensamento do livro.

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    1. Oliveira, meus movimentos são friamente calculados,rs

      Brincadeira, fui escrevendo o que sentia sobre o livro.

      Platão era um grande trouxa, não sabia nada da vida.

      Hug queridona :D

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  4. Não é um livro que eu leria Marcia,
    apesar de sua ótima resenha e do fato de eu gostar muito de ouvir música
    a capa é bem legal, mas a premissa .......
    fazer o que né rsrsrs

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    1. Pepi Sandra te entendo, é um livro meio beat e nem todos curtem o tipo de narrativa amalucada.

      Mas tem outros títulos excelente desta editora, Stoner é um deles.

      Hug queridona :D

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  5. Eu curto muito a música, mas acho que não leria nada sobre.
    Talvez se você uma autobiografia de alguma banda/canto eu apostaria na obra, mas infelizmente esse seria um livro na qual eu não leria :/
    Bjs

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    1. Gemeas Azevedo, ler obras desta temática tem muito haver com o gosto pessoa mesmo.

      Mas é bom saber da existência de livros diferentões como este, mesmo que não leia, pode indicar para algum amigo né, sempre bom estar por dentro das publicações.

      Hug meninas :D

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  6. Quem não é gamado em música aqui? Acho difícil de achar uma pessoa que não seja. O assunto e a personagem tem tudo pra agradar. Parece ter muitos altos e baixos na vida dela. e isso me deixou curiosa. Está arrebentando nas resenhas. Assim vou falir. Mais um pra lista. Rsrsrs
    Beijos.

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    1. Beth, somos malucas por música aqui no blog, e acabamos por seguir este gosto na literatura também. Se vc gosta dos livros do estilo beat, sem dúvida irá apreciar este livro da Radio Londres.

      Hug queridona :D

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  7. Amo narrativas meio loucas e música, mas essa personagem principal não me agradou em nada :/

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    1. Míriam, sabe que a mim tb não me cativou, mas é um livro bastante diferente de tudo o que costumo ler.

      Hug D:

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  8. O livro soa diferente, só de se passar na Colombia já evoca ares diferentes!
    Parece ser uma viagem mesmo, vou ver se espio ele nas livrarias...

    Miquilis

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    1. Bruna, Radio Londres sempre merece uma espiadinha, vai que seja um livro que é do teu agrado.

      Hug :D

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:) :( ;) :D :-/ :P :-O X( :7 B-) :-S :(( :)) :| :-B ~X( L-) (:| =D7 @-) :-w 7:P \m/ :-q :-bd

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