E
Clarice resolveu dar uma de José Saramago, só que em vez de
transformar a morte num personagem, ela consegue ser ainda mais
abissal, dando vida ao ser.
Vou
tentar em minhas limitações tirar algo que faça sentido para mim (e pra vocês) neste texto.
Guiava-o a vontade de descobrir o próprio determinismo, e segui-lo com esforço, pois a linha verdadeira é muito apagada, as outras são mais visíveis
Nas
primeiras linhas do texto eu pensei se tratar de uma pessoa e seu
trabalho, como numa linha de montagem ou algo semelhante, mas estava
terrivelmente enganada. Embora o ser fosse tratado quase como uma
pessoa.
É
sempre muito complicado tentar explicar coisas invisíveis, parece uma
batalha perdida. Mas irei me esforçar, prometo.
O ser sempre fez parte de nossa vida. Ele fica ali de canto, até quando chega alguma crise ou algo que nos tire de nossas certezas.
Nem sempre nos damos conta de sua existência e de seu trabalho interno incessante.
O ser sempre fez parte de nossa vida. Ele fica ali de canto, até quando chega alguma crise ou algo que nos tire de nossas certezas.
Nem sempre nos damos conta de sua existência e de seu trabalho interno incessante.
Afastava de si as verdades menores que terminou não chegando a conhecer. Queria as verdades difíceis de suportar
Neste
conto o ser se mostra muito decepcionado conosco por não o
reconhece-lo como ele de fato é.
Não compreenderam que para o ser, ter se reunido, fora trabalho de despojamento e não de riqueza. E, por equívoco, o ser foi eleito
Para
nos dar alguma coisa de sólido para concatenar as possíveis ideias, Clarice nos dá a ideia da
fotografia , o retrato.
As pessoas tiram fotos, hoje , são as apaixonadas selfies e pensam serem elas exatamente naquela imagem. E não se dão conta que a imagem é apenas uma representação muito superficial delas mesmas.
As pessoas tiram fotos, hoje , são as apaixonadas selfies e pensam serem elas exatamente naquela imagem. E não se dão conta que a imagem é apenas uma representação muito superficial delas mesmas.
Por simplificação e economia de tempo, haviam fotografado o ser. E agora não se referiam ao ser, referiam-se à fotografia
E não podiam arriscar: seria a fotografia, ou nada. O ser, por uma questão de bondade, tentava às vezes imitar a fotografia a fim de valorizar o que os outros tinham, isto é, a fotografia. Mas não conseguia manter-se à altura simplificada do retrato
Esquecem
que existe algo subterrâneo, o ser. Que tentando trabalhar num
interior compatível com essa imagem exterior , fracassa inevitavelmente.
O
texto é claro em sua mensagem, não sabemos como lidar como nosso
ser, apenas temos uma consciência parcial e muitas vezes displicente.
Gostava da profunda alegria dos outros, por dom inato descobria a alegria dos outros. Por dom, era também capaz de descobrir a solidão que os outros tinham em relação à própria alegria mais profunda
Talvez
por isso nos escondemos em nossa formação social e até em nossos traumas e defeitos, que garantimos ser fruto de um passado que não nos
favoreceu para sermos melhores.
E
nisso o ser vai percorrendo outros caminhos, como o sangue que
encontra a veia obstruída e é obrigado a abrir novos espaços e
continuar o seu trabalho.
Clarice Lispector - Todos os Contos
Editora Rocco - Capa Dura - 656 Pgs
Organizado por Benjamin Moser
Marcia Cogitare
Olá, Marcia!
ResponderExcluirSua análise ficou incrível!
Gostei demais de tudo o que você escreveu e das percepções que conseguiu extrair desse texto que, para mim, foi incompreensível.
Um beijo grande!
Valeu Silvia. E esse deu um baita trabalho.
ResponderExcluirComo diz o ditado: É tirar leite de pedra.
Hug
Oi Márcia, realmente fiquei sem palavras com a premissa do conto, você conseguiu fazer milagres com essa resenha. Beijinhos
ResponderExcluirJade, você não faz ideia de como alguns textos de Clarice vira um parto para resenhar. Tem dias que brigo e fico exausta em refletir nesses contos. É um desafio.
ExcluirHug :D
Achei bastante interessante a sua análise no que tange a superficialidade das pessoas nos dias de hoje. Nesse sentido, é possível enxergar, nesse conto, um diálogo com o Mito da Caverna de Platão.
ResponderExcluir