É
comum muitas pessoas que leem Clarice Lispector intuírem que a autora
nos dá uma trolada as vezes. E ela brinca conosco, escrevendo não
para um público, mas para si mesma. Como num exercício de oficina
de escrita.
Acredito
que este texto tenha um pouco disso.
Que seus críticos almofadinhas não me leiam rs.
Que seus críticos almofadinhas não me leiam rs.
Em
São Cristóvão no RJ, uma família no doce mês de maio e sua lua
cheia, comem seu jantar, e relaxados nessa dinâmica familiar, cada
qual segue para seu quarto. Os pais cansados logo adormecem, as três
crianças em suas camas, fazem posições impossíveis e também são
tragadas pelo sono profundo, a avó com algum incomodo da velhice, também se recolhe e o último membro da família, uma garota
magrela de 19 anos, confabulando planos de mudanças em sua cabeça
sonhadora e em meio aos seus pensamentos, o bom sono à pega de jeito,
interrompendo suas explanações metafísicas.
O que tornava particularmente abastada a cena, e tão desabrochado o rosto de cada pessoa, é que depois de muitos anos quase se apalpava afinal o progresso nessa família: pois numa noite de maio, após o jantar, eis que as crianças têm ido diariamente à escola, o pai mantém os negócios, a mãe trabalhou durante anos nos partos e na casa, a mocinha está se equilibrando na delicadeza de sua idade, e a avó atingiu um estado. Sem se dar conta, a família fitava a sala feliz, vigiando o raro instante de maio e sua abundância
Nesta
madrugada, 3 mascarados invadem o jardim da família em busca de jacinto para complementar suas fantasias carnavalescas (carnaval
em maio? muito suspeito isso)
e nessa tentativa de afanar os tais jacintos, um rosto branco e
fantasmagórico,
surge na janela que dá para o jardim.
Os
invasores tomam um susto e resolvem abortar a missão, deixando um
belo e pomposo jacinto
danificado em seu galho partido.
Claro
que sabemos que o tal rosto era da garota de 19 e que nada tinha
haver com almas de outro mundo. Mas é legal essa pitada de terror no
canto, me lembrou muito esses filmes de terror que adora nos pegar
desprevenido e nos dar um belo susto.
Mas a casa continuava entre trevas e sapos. E, no jardim sufocado de perfume, os jacintos estremeciam imunes
Mas o assustador mesmo, é você e sua família pensarem que nada os tirará da segurança de suas camas quentinhas enquanto repousam após um dia de trabalho intenso.
Talvez você pense que estes rapazes não passam de sujeitos mal educados e sem qualquer outra intenção maldosa. Pode até ser, mas a violência está contida neste pequeno ato desautorizado de invasão domiciliar.
Sei
que iniciei a resenha sem uma perspectiva muito clara e fui mudando
no decorrer de minha escrita. Acho que a ideia de falar sobre os
contos de Clarice, é justamente se deixar levar e até mesmo por
falta de uma percepção mais apurada e limitações interpretativas
de minha parte, se prestando ao ridículo algumas vezes (faz parte do
processo).
E
minha percepção foi mudada aqui, me bateu uma bad. Por perceber que
sempre vivemos com medo. Laços de família foi publicado na década
de 60 e o medo já estava ali.
É
duro pensar que nós brasileiros ainda somos incivilizados (e existe esta palavra?) e nos
falta um senso coletivo, onde minha vontade vem num segundo plano,
quando se trata da relação com os demais.
Leiam a resenha da Silvia sobre este conto.
Só Clicar Aqui
Clarice Lispector - Todos os Contos
Editora Rocco - Capa Dura - 656 Pgs
Organizado por Benjamin Moser
Marcia Cogitare
Achei tão atual esse conto, e não me soou muito a cara da Clarice (não sei pq mas foi a impressão que tive)..
ResponderExcluirApesar de todos os comentários acima parecerem ruins eu gostei muito desse conto :)
Vocês estão fazendo um trabalho incrível!!
Maravilhoso!
ResponderExcluirÉ ótimo termos uma interpretação como essa, e é incrível o modo que Clarice nos prega uma certa peça!
B.Giovanne, Clarice é maravilhosa :D
ExcluirHug
Daiani, concordo contigo, este conto tem um tom diferente. Parece um outro escritor o seu autor.
ResponderExcluirHug
O conto é ruim, sem vida - um saco - , mas tua análise consegue ser pior. Aliás, todo mundo acha chique dizer que gosta da Clarice Lispector. Ninguém entende nada. Nem a própria autoria se entendia.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirAmigo anônimo, gostaria de ouvir sua interpretação do texto clariceano. Me parece imperdível ouvi lo. Será que terei capacidade de compreender seus apontamentos?.
ExcluirFico na expectativa
Gente,me perdoem, não entendi oq o conto quis dizer. Oq os jacintos representam? Como assim a família da moça estava estável no começo e no final acabou em miséria?
ResponderExcluirAchei muito bom
ResponderExcluirAchei muito ruim
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