15 março, 2017

A Legião Estrangeira






E fechamos o livro  - A Legião Estrangeira com o conto de mesmo nome.


Parece que Clarice tem fixação em baratas, ovos, galinhas e afins rs. O conto é iniciado com o relato de uma dona de casa que ganha um pintinho e como aquele ser tão frágil ganha a atenção e o cuidado de toda a família, mas que com o passar dos dias sua insistência em ter medo , acaba por deixar os homens da casa impacientes. Elegendo assim a mulher como mãe desse pintinho.



Eu não sabia sequer onde cabia tanto terror numa coisa que era só penas


Eu era a enviada junto àquela coisa que não compreendia a minha única linguagem: eu estava amando sem ser amada. A missão era falível, e os olhos de quatro meninos aguardavam com a intransigência da esperança o meu primeiro gesto de amor eficaz


Neste ponto a narrativa muda de direção e faz uma digressão, e a tal mulher tenta reconstruir as lembranças de uma família que residia no mesmo andar de seu apartamento. Uma família muito arredia e nada social, sendo até mesmo ríspida com o trato com ela.


Essa família que pelo texto parecem ser muçulmanos (eu aposto isso seja real aqui) ou talvez indianos, isso segundo a descrição da cor de suas peles e comportamento arredio.



Talvez a falta de cordialidade fosse devido a sua religião muçulmana (sou eu viajando, já que não se menciona o uso do véu que é comum nas mulheres desta religião, mas o texto deixa de mencionar milhares de coisas. Então tomei a liberdade de imaginar dentro das parcas informações do texto). 

Todos estes camaradas que não se misturam com os ocidentais, por nos achar uns porcos impuros ou algo que o valha.


Nunca entendi religião que separa as pessoas. Fujam dessas, elas pra nada servem.


Fato que essa família tinha uma menina de 8 anos e cheia de orgulho e imponente ou seria prepotente como sua família.


Esta chegava sem avisar no apartamento da mãe de família, sentava-se e desferia suas opiniões e certezas na cara da pobre mulher desavisada.
Emitia sua crítica sobre a criação de seus filhos estarem errada, sobre os legumes em excesso comprado na feira e sobre estar ainda de robe naquela hora da manhã.



Ofélia, ela dava-me conselhos. Tinha opinião formada a respeito de tudo. Tudo o que eu fazia era um pouco errado, na sua opinião



Existia um duelo silencioso entre as duas.




Que é que ela quer? – agitei-me – por que atraio pessoas que nem sequer gostam de mim?



Numa dessas visitas a menina vai até a cozinha e pega o pintinho da família e o mata. Clarice dá a entender que aquilo poderia não ser um acidente de criança travessa, mas sim a ação da maldade intrínseca até mesmo na mais tenra idade ou era amor em excesso que matou o pobre do pintinho , manuseado demais pela menina.
Aqui cabe as duas interpretações em minha opinião.


Após este episódio, nunca mais ela soube que fim deve aquela família. E ela se lembrava deles como numa foto desbotada sem importância.



Se me perguntassem sobre Ofélia e seus pais, teria respondido com o decoro da honestidade: mal os conheci. Diante do mesmo júri ao qual responderia: mal me conheço



O que achei mais legal neste conto, é que Clarice novamente brinca com o pintinho espelhar nossa frágil vida humana, cheia de medos, nossa comunicação falha e nossa inabilidade diante do amor.



Não se esqueçam de ler  resenha de minha parceira de projeto - Silvia no Blog - Reflexões de Silvia


*Este conto pertence ao livro A Legião Estrangeira





Clarice Lispector - Todos os Contos
       Editora Rocco - Capa Dura - 656 Pgs
        Organizado por Benjamin Moser

                   
                    Marcia Cogitare




4 comentários:

  1. "O que achei mais legal neste conto, é que Clarice novamente brinca com o pintinho espelhar nossa frágil vida humana, cheia de medos, nossa comunicação falha e nossa inabilidade diante do amor".
    Achei muito interessante esse seu pensamento...
    Lendo a resenha eu não tive essa impressão, já que não li o conto em si...
    Mas depois dessa sua expressão o conto me pareceu muito mais interessante do que antes.
    E eu tenho que fazer um comentário... Pq Senhor, fixação por baratas? Argh :X

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    1. Oi Daiani, O romance A Paixão Segundo GH tem uma barata que ajuda a jogar a história pra frente e que é fundamental na narrativa. Fora um conto ou outro que tem barata no meio rs.

      Clarice ama nos tirar de nossa zona de conforto.

      Hug lindona

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  2. Oi Márcia, primeiramente pobre pintinho kk. Lendo esse conto só consegui associar o complexo de Electra a essa pequena menina. O que achei interessante foram as duas interpretações para a morte do pintinho, ou excesso de amor ou crueldade, é um pouco como matamos muitas pessoas na nossa vida, as sufocando com cuidados exagerados ou ferimos suas almas com comentários amargos. Beijinhos

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    1. Jade, gosto muito das dualidades clariceanas. A vida não é algo exato, num é mesmo.

      E realmente, pobre pintinho :-S

      Hug :D

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:) :( ;) :D :-/ :P :-O X( :7 B-) :-S :(( :)) :| :-B ~X( L-) (:| =D7 @-) :-w 7:P \m/ :-q :-bd

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