22 fevereiro, 2017

A Solução




Este conto nos faz pensar sobre  preconceito e de como isso pode gerar atos carregados de violência em sua vitima.

Num ambiente de trabalho encontramos duas mulheres - Almira e Alice .
Almira sofria de obesidade e tentava sempre bajular a “amiga” magra e calada que lhe suportava a presença sem a sua desconfiança.


Por que Alice tolerava Almira, ninguém entendia. Ambas eram datilógrafas e colegas, o que não explicava. Ambas lanchavam juntas, o que não explicava. Saíam do escritório à mesma hora e esperavam condução na mesma fila. Almira sempre pajeando Alice. Esta, distante e sonhadora, deixando-se adorar



Até que num desses dias de trabalho, Almira chegando na empresa, topa com a mesa de sua companheira vazia. Uma hora depois chega Alice com os olhos vermelhos e abatida.

Almira insiste em saber o que se passou e por qual razão, Alice se encontrava neste estado. Mas Alice nada revela.
Almira a convida para almoçar e ambas sentadas a mesa inicia-se novamente o interrogatório. Alice não aguenta e a chama de gorda intrometida e solta tudo o que ela guardava dentro de si sobre a pobre Almira.


Só a natureza de Almira era delicada. Com todo aquele corpanzil, podia perder uma noite de sono por ter dito uma palavra menos bem dita. E um pedaço de chocolate podia de repente ficar-lhe amargo na boca ao pensamento de que fora injusta. O que nunca lhe faltava era chocolate na bolsa, e sustos pelo que pudesse ter feito


Aqui é que acontece algo inacreditável, Almira avança com toda a força sobre Alice e lhe espeta um garfo em seu pescoço.
E fica ali parada diante da "amiga" sangrando no chão.


Foi então que Almira começou a despertar. E, como se fosse uma magra, pegou o garfo e enfiou-o no pescoço de Alice. O restaurante, ao que se disse no jornal, levantou-se como uma só pessoa. Mas a gorda, mesmo depois de feito o gesto, continuou sentada olhando para o chão, sem ao menos olhar o sangue da outra



Na cadeia tem conseguido viver muito melhor. Lá não precisa se esforçar para agradar tanto.

Este pequeno conto me fez pensar o quanto nós mulheres estamos fadadas a pedir desculpas por ser quem somos.

Seja, você gorda, alta, magra, bem sucedida, mal sucedida, mãe, negra, não interessa, em algum momento você terá que se desculpar por ser você mesma.


E não se esqueçam de ler a resenha da Silvia sobre este conto. 






*Este conto faz parte do livro - A Legião Estrangeira






Clarice Lispector - Todos os Contos
       Editora Rocco - Capa Dura - 656 Pgs
        Organizado por Benjamin Moser

                   

                    Marcia Cogitare




6 comentários:

  1. Fiquei querendo demais ler esse conto!
    Eu ainda vou lê-los, Marcinha.
    Amei a imagem base da resenha!
    :D

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Telma, leia o conto, tenho certeza que irá curtir.

      Eu adorei a imagem, caiu muito bem com o tema do conto.

      Hug

      Excluir
  2. Fiquei com pena de Almira, a moça passou tanto tempo tentando ser uma boa pessoa e só a tratavam como estorvo. Realmente Márcia, é incrível como nunca somos boas o bastante para a sociedade, talvez o segredo seja o que a Almira descobriu, não nos esforçarmos tanto para agradar os outros (mas essa parte é bem complicada de aceitar). Beijos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Jade, ser mulher é tão estressante né. A sociedade exige muito mais de nós.

      Aja equilíbrio.

      Hug

      Excluir
  3. Meu Deus, fiquei preocupada com esse conto.. coitada dá Almira gente :( acho que ela só tava querendo ser legal com a amiga independente dela ser magra :( tô errada?!
    Pediremos desculpas por tudo de errado que não fizemos.. sempre!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Daiani, eu morri de dó da Almira. Ela só queria a amizade da Alice. Mas a coisa realmente saiu do controle, muito triste.

      Hug lindona

      Excluir
:) :( ;) :D :-/ :P :-O X( :7 B-) :-S :(( :)) :| :-B ~X( L-) (:| =D7 @-) :-w 7:P \m/ :-q :-bd

Vai ser muito bom saber o que você achou dessa postagem!
Opine!