11 janeiro, 2017

PJ Clarice Lispector - Conto 19 - Os Laços de Família






E finalmente estamos de volta com nosso projeto Clarice Lispector. Estou um pouco enferrujada mas bóra falar um pouquinho sobre este conto maravilhoso.

Clarice curte mesmo essa coisa de explorar as relações familiares. As vezes é cômico e na maioria das vezes de forma sutil, nos mostra devagarinho o real sentido das coisas. 
E quando nos damos conta, dói e dói. Clarice é boa nisso rs.

O conto se inicia com a despedida da mãe de Catarina, após passar uns dias em seu apartamento com sua família. O marido engenheiro e um filho de 4 anos que a velha insistia em dizer que estava magro e nervoso.
Sabe como é avó, rola uma competição de quem é a melhor mãe, e a filha geralmente sucumbe sobre os ideais de maternidade da velha mãe. 



Felizmente nunca precisava rir de fato quando tinha vontade de rir: seus olhos tomavam uma expressão esperta e contida, tornavam-se mais estrábicos – e o riso saía pelos olhos. Sempre doía um pouco ser capaz de rir. Mas nada podia fazer contra: desde pequena rira pelos olhos, desde sempre fora estrábica


Com a partida da mãe e todos meio que aliviados, quando a senhora pega seu trem de volta pra casa.
Clarice nos dá um pequeno foco entre o percurso do táxi e a partida do trem, como Catarina quando criança se afinava com o pai e sua mãe era simplesmente a cuidadora da casa. Não existia uma cumplicidade entre elas, nenhum afeto fisicamente demonstrado.
E o que restou desta relação tão frágil, foi somente o sangue em comum entre as duas. Laços de sangue, um amor formal.



Catarina fora lançada contra Severina, numa intimidade de corpo há muito esquecida, vinda do tempo em que se tem pai e mãe. Apesar de que nunca se haviam realmente abraçado ou beijado. Do pai, sim. Catarina sempre fora mais amiga. Quando a mãe enchia-lhes os pratos obrigando-os a comer demais, os dois se olhavam piscando em cumplicidade e a mãe nem notava

Quando Catarina volta para seu apartamento, após levar sua mãe à estação de trem, o foco se volta para a relação dela com este filho distraído de 4 anos. E pela primeira vez ele a chama de mamãe num tom nunca ouvido antes e que não envolvia nenhum interesse, como sabemos que é comum das crianças nesta fase egoísta delas. O filho a chama para passear e ela responde prontamente , deixando seu marido sozinho com seu livro no apartamento mobiliado com precisão de uma família burguesa.

E novamente o foco é alterado, vemos este homem sozinho e inseguro, avistando pela janela  esta  mulher tão segura de si  e seu filho caminhando pela calçada. Ele pensa num fragmento de tempo, talvez eles o estão abandonando.
Como ela neste momento sozinha com o filho, se dá ao direito de ser feliz sem ele?. 



Ninguém mais pode te amar senão eu, pensou a mulher rindo pelos olhos; e o peso da responsabilidade deu-lhe à boca um gosto de sangue


Clarice , Clarice, essa você pegou pesado hein.
As relações são tão frágeis, cuidem para que não se quebrem num dia em que você resolve fugir da rotina familiar e os questionamentos e inseguranças do outro, logo irá em seu encontro. 

Não se esqueça de ler o texto da minha companheira de projeto - Silvia 


*Este conto faz parte do livro Laços de Família







Clarice Lispector - Todos os Contos
       Editora Rocco - Capa Dura - 656 Pgs
        Organizado por Benjamin Moser

                   
                  Marcia Cogitare



2 comentários:

  1. Pois é, Marcia... as relações são muito frágeis. Sem percebermos, acabamos rompendo algum elo de ligação e o diálogo desaparece. De um momento para outro, as pessoas se tornam estranhas e com mundos próprios.
    Beijo!

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    Respostas
    1. Falta um diálogo aberto e entender que vale a pena conservar muitas das relações.

      Mas geralmente optamos pelo mais fácil, romper os laços.

      Hug

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