07 dezembro, 2016

PJ Clarice Lispector - Conto 17- O Jantar






Clarice tem deixado minha vida de resenhista difícil.
O que você faria diante de um texto que descreve um velho num restaurante comendo de boca aberta, tomando seu vinho e com o guardanapo pressionando os olhos, até que desce uma lágrima de um dos olhos. 


O que significa isso, Clarice?. Please. 

Dois desconhecidos no restaurante, um deles observando obcecadamente o outro, medindo cada movimento de seu rosto seu maxilar e sua língua estalando, enquanto bebe o vinho escolhido.


Fico imaginando esta exata cena descrita neste conto, hoje em dia, com os celulares e seus aplicativos frenéticos bombando. Não sei se seria possível.



Ele entrou tarde no restaurante. Certamente ocupara-se até agora em grandes negócios. Poderia ter uns sessenta anos, era alto, corpulento, de cabelos brancos, sobrancelhas espessas e mãos potentes. Num dedo o anel de sua força. Sentou-se amplo e sólido.Perdi-o de vista e enquanto comia observei de novo a mulher magra de chapéu. Ela ria com a boca cheia e rebrilhava os olhos escuros.No momento em que eu levava o garfo à boca, olhei-o. Ei-lo de olhos fechados mastigando pão com vigor e mecanismo, os dois punhos cerrados sobre a mesa. Continuei comendo e olhando. O garçom dispunha os pratos sobre a toalha. Mas o velho mantinha os olhos fechados. A um gesto mais vivo do criado ele os abriu com tal brusquidão que este mesmo movimento se comunicou às grandes mãos e um garfo caiu. O garçom sussurrou palavras amáveis abaixando-se para apanhá-lo; ele não respondia. Porque agora desperto, virava subitamente a carne de um lado e de outro, examinava-a com veemência, a ponta da língua aparecendo – apalpava o bife com as costas do garfo, quase o cheirava, mexendo a boca de antemão. E começava a cortá-lo com um movimento inútil de vigor de todo o corpo. Em breve levava um pedaço a certa altura do rosto e, como se tivesse que apanhá-lo em voo, abocanhou-o num arrebatamento de cabeça



Demorei de sacar o que estava acontecendo neste  ínfimo recorte  de prazer culinário.
Desconfio que estes momentos que parecem insignificantes e corriqueiros, cobertos de tédio. São eles que nos resgatam de sermos apenas bípedes ingratos neste mundo.Onde a vida acontece em pequenas ondas de beleza e nos lugares mais comuns possíveis.

Basta ter olhos e a sensibilidade para capturar o momento.



Quando me traíram ou assassinaram, quando alguém foi embora para sempre, ou perdi o que de melhor me restava, ou quando soube que vou morrer – eu não como. Não sou ainda esta potência, esta construção, esta ruína. Empurro o prato, rejeito a carne e seu sangue



Leiam e busquem conhecimento (como já dizia o ET Bilú rs). 

Vou lá no Reflexões e Angústias pra ver se a Silvia conseguiu ser mais feliz em seu texto do que eu rs










Clarice Lispector - Todos os Contos
       Editora Rocco - Capa Dura - 656 Pgs
        Organizado por Benjamin Moser




                    Marcia Cogitare





4 comentários:

  1. Puxa... achei o conto tão lindo... sensível... uma descrição da solidão...
    Beijo!

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  2. Silvia, imaginei coisas bizarras que não coloquei no texto rs.

    Obrigada por me dar um outro olhar sobre ele.

    Hug

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  3. Nossa Márcia, não consigo ter opinião sobre esse conto pelos trechos ou sua resenha, estou confusa com a história, acho que esse nem lendo vou entender muito 😅. Beijos

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    1. Jade, eu tive muito dificuldade em escrever algo sobre este conto. Acho que falhei terrivelmente em minha leitura e consequentemente em minha resenha. Acontece né.

      Hug

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:) :( ;) :D :-/ :P :-O X( :7 B-) :-S :(( :)) :| :-B ~X( L-) (:| =D7 @-) :-w 7:P \m/ :-q :-bd

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