02 outubro, 2016

Resenha: Confissões do Crematório



CONFISSÕES DO CREMATÓRIO reúne histórias reais do dia a dia de uma casa funerária, inúmeras curiosidades e fatos históricos, mitológicos e filosóficos. Tudo, é claro, com uma boa dose de humor. Enquanto varre as cinzas das máquinas de incineração ou explica com o que um crânio em chamas se parece, ela desmistifica a morte para si e para seus leitores.

O livro de Caitlin – criadora da web série Ask a Mortician – levanta a cortina preta que nos separa dos bastidores dos funerais e nos faz refletir sobre a vida e a morte de maneira honesta, inteligente e despretensiosa – exatamente como deve ser. Como a autora ressalta na nota que abre o livro, “a ignorância não é uma benção, é apenas uma forma profunda de terror”.

O título é a primeira obra de não ficção a integrar a coleção DarkLove, a linha especial da DarkSide® Books para corações valentes. Sua escrita divertida e realista será muito bem representada na edição em capa dura que chegará às mãos dos leitores brasileiros em julho de 2016.



Inusitadíssimo, cômico, mórbido, catártico e filosófico.

É assim que eu definiria esse livro em uma linha, queridos maluquinhos.

Acho que na minha vida, nunca marquei tantos trechos quanto nesse livro.
Dá uma olhada!






Esses foram os inevitáveis, por me impressionarem de uma forma ou de outra; mas eu poderia ter marcado tantos outros... Claro que vou deixar alguns abaixo para vocês "degustarem".

Eu estou apaixonada por Caitlin Doughty!  Essa mulher é inteligente, tem um senso de humor negro e sarcástico e é, ao mesmo tempo, muito profunda.

A morte, tão certa e tão fora das temáticas das conversas (e do pensamento) é o objeto principal desse livro. Uma certeza que temos e da qual procuramos não pensar/lembrar. Acredito que, de certa forma, a autora desmistifica um tanto a danada da morte. Através de histórias super diferentes, de outros povos sobre quem somos e para onde vamos, nos traz conceitos que chacoalham os nossos e de quebra, de forma totalmente ludi-cômica (se não existe, criei) a realidade de um crematório e suas mais absurdas histórias.

Começamos com Caitlin louca pra trabalhar num crematório e tentando se enquadrar no perfil da vaga (apesar de muito nova e totalmente inexperiente). Ela queria conhecer, o mais intimamente possível, o processo pelo qual todos passaremos (não o da cremação, o da morte, óbvio) e vai desfilando comentários de seu primeiro dia e de suas observações filosóficas. 

O bacana também é verificar que há tanto preconceito pra nada. Veja esse quote delicinha:


As pessoas no frigorífico provavelmente não andariam juntas no mundo dos vivos. O homem negro idoso com infarto do miocárdio, a mãe branca de meia idade com câncer de ovário, o jovem hispânico que levou um tiro a poucos quarteirões do crematório. A morte os levou ali para uma espécie de reunião das Nações Unidas, uma discussão em mesa redonda sobre a não existência. p.28

Outro pensamento interessante da autora:


Às vezes, penso em como minha infância teria sido diferente se eu tivesse sido apresentada diretamente à morte. Sido obrigada a conviver com a presença dela, apertar sua mão. Ouvido que ela seria um companheira íntima, que influenciaria todos os meus gestos e todas as minhas decisões, sussurrando "Você é comida de larva" no meu ouvido. Talvez ela tivesse se tornado minha amiga. p.48


Outra figura interessantíssima, é Chris, um rapaz que trabalha em conjunto com Caitlin na retirada de corpos de diversos locais para o crematório, dentre uma série de outros trabalhos:


"Sabe o que eu penso, Cat?" - perguntou enquanto pegávamos nossos pares de lucas de borracha. "Que somos como assassinos de aluguel. Que nem os caras do Pulp Fiction. Eles ficam sentados no carro conversando sobre um sanduíche e depois vão explodir a cabeça de alguém. Nós estamos aqui no carro batendo papo e agora vamos entrar para pegar um cadáver." p.61

Vamos acompanhando o amadurecimento da autora, tanto no trabalho, como em ideias. Concordar ou discordar vai do leitor e essa é uma das muitas belezas do livro:


Mesmo que passemos o dia encontrando jeitos criativos de negar nossa mortalidade, por mais poderosos, amados e especiais que nos sintamos, sabemos que estamos fadados à morte e à decomposição. Esse é um peso mental compartilhado por poucas e preciosas espécies na Terra. p.70

Sobretudo, o que mais me impressionou foi o respeito com que a morte é tratada. Não apenas pela autora, mas por povos, tribos e pessoas que passei a conhecer superficialmente e admirar profundamente, dentre elas, a autora, claro (muito embora eu ainda sinta um medo danado do encontro inevitável com a morte).

Eis como a autora poetisa sobre o que deseja que aconteça com seus corpo, após a morte:


Como Gauguin, eu queria que animais devorassem meu corpo. Afinal, existe uma diferença mínima entre um corpo e uma carcaça. Eu era tão animal quanto as outras criaturas da floresta de sequoias. Um cervo não precisa de embalsamamento, de caixões fechados ou de lápides. Ele é livre para ficar no lugar em que morrer. Durante toda a minha vida, comi outros animais, e agora me ofereceria a eles. A natureza enfim, teria sua oportunidade comigo. p.196

Eu  havia dito que, sobretudo o que mais me impressionou foi o respeito da autora para com a morte? Não.... acho que não... vou retificar o que disse:
sobretudo, o que mais me impressionou, foi o respeito da autora pela vida. A celebração e o chamado a vida, enquanto vida é.

Num primeiro momento o livro parece ser 100% morbidez, eu classifico como 100% filosofia, sem perder o "cadinho" de morbidez, afinal estamos falando dela... (falando baixinho pra ela não me ouvir)... estamos falando da morte.

Para quem indico o livro? para quem vai morrer um dia (é assim que está (muito bem) escrito na capa).




Deixo com vocês, meu amado Raul Seixas e esse tango; sua filosofia musical sobre a morte (ele foi o primeiro que me apresentou o tema dessa forma: o encontro temido e inevitável).

Canto Para a Minha Morte:









* Possíveis erros de ortografia, gramática e digitação, serão corrigidos em minha releitura do texto.




8 comentários:

  1. Telma que livro instigante. Quero ler now.

    Fiquei extremamente curiosa para conhecer a autora.
    Já tinha visto o vídeo do canal pipoca musical e a Raquel me fisgou com a apresentação deste livro.

    Gosto muito da composição de suas resenhas, tem fotos, Música e fora o conteúdo sempre bem escrito.

    Hug lindona

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    1. ah sua coisa linda!
      Você vai ler esse livro, porque ele é nossa cara: diferente.... weird!
      um mega beijo
      ;)

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  2. Oi Telma, que livro diferente! Não conhecia ainda e achei super inusitado, admito que não faz meu estilo pois reflexões desse tipo me deixam meio emotiva(lê-se chorando/depressiva no lugar desse meio). Eu não sei quanto a você mas o que mais temo na morte não é a minha própria, essa é a mais simples pois estaremos mortos mesmo kk, sempre que penso na morte tenho medo pelas pessoas que amo. Como não sou bem resolvida como o tema acho que não lerei essa obra mas adorei conhecê-la um pouco mais. Beijos

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    1. Jade, o tema é chocante, mesmo.
      Tememos a morte porque não conhecemos. Aquele "pós" morte que cada um explica que um jeito e depende de fé, é assustador. Fora a maneira como vamos morrer. Sei exatamente como se sente e o livro seria, realmente pesa pra você, apesar da grande comicidade no conteúdo.
      Um super beijo, sua linda. ;)

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  3. Ah que livro interessante...
    Depois de ler sua resenha fiquei com muita vontade e ler..
    Essa capa está maravilhosa, e essa autora parece ser incrível, os quotes estão muito bons, cheio de detalhes, muito bom..
    Se eu não tivesse lido sua resenha provavelmente não me interessaria pelo livro, mas sua resenha mudou tudo!!
    Parabéns :)

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  4. Ah que livro interessante...
    Depois de ler sua resenha fiquei com muita vontade e ler..
    Essa capa está maravilhosa, e essa autora parece ser incrível, os quotes estão muito bons, cheio de detalhes, muito bom..
    Se eu não tivesse lido sua resenha provavelmente não me interessaria pelo livro, mas sua resenha mudou tudo!!
    Parabéns :)

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  5. Como adorei essa resenha! A capa do livro é maravilhosa haha na verdade o livro todo é bem trabalhado. Antes mesmo de ler que é da DarkSide, meio que já adivinhei XD Gostei dos quotes que li, me deram vontade de ler o livro. A autora fala de um assunto que me sinto a vontade, por isso acho que nos daríamos bem se nos conhecêssemos kkkkkkkk Quem dera neh

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  6. Adorei a resenha Já tinha ouvido falar desse livro, mas após sua resenha Preciso ler agora !!! Bjo

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:) :( ;) :D :-/ :P :-O X( :7 B-) :-S :(( :)) :| :-B ~X( L-) (:| =D7 @-) :-w 7:P \m/ :-q :-bd

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