Entrevista com o Vampiro: A História de Cláudia

"Acorde, Cláudia. Você está doente, está me ouvindo? Precisa fazer o que eu mandar para ficar boa." Ela é uma vampira que nunca deveria ter sido. Sua própria existência é tida como uma abominação entre as criaturas da noite. Com a luxúria de uma predadora aprisionada no corpo de uma criança, ela se move através das sombras de um mundo sempre fora de seu alcance. Órfã, filha, vítima e monstro... esta é a história de Cláudia.

resenha por K. S. Broetto

Dados da Publicação:

Entrevista com o vampiro: a história de Cláudia

Autor: Anne Rice & Ashley Marie Witter

Tradução: Daniel Ribas

224 pp. | 14x21 cm

ISBN: 978-85-325-2972-5

Nunca é fácil falar das coisas queridas... E assim farei a minha primeira resenha no Surtos Literários, falando de algo muito querido para a minha história como leitora.

Leio desde muito nova, sem que o gênero ou faixa etária importasse, eu apenas lia. Séries infantis, romances adaptados ao cinema, Sherlock Holmes, poesias, Pedro Bandeira e, pasmem, uma leitura que se tornou corriqueira por muitos anos da minha infância e adolescência foi as Crônicas Vampirescas de Anne Rice.

Li Entrevista com o Vampiro anos antes de receber sua adaptação para o cinema, apaixonada li suas sequências embasbacada pelo universo sombrio, sedutor e mortal criado por sua autora. Não foi coincidência (acredito) quando poucos anos depois me encantei por outro universo inspirado em sua literatura, o RPG Vampiro A Máscara.

Os vampiros sempre tiveram e sempre terão (assim espero) forte presença no imaginário coletivo, historicamente presentes na literatura, no cinema, no teatro e até mesmo na música (afinal até mesmo Lestat se tornou um astro do rock). Dentre tantas adaptações e releituras, as Crônicas Vampirescas reinam inesquecíveis, tanto que, após quase quatro décadas depois do lançamento de Entrevista com o Vampiro, o direito dos onze livros foram adquiridos pela Universal Pictures para adaptação cinematográfica. Em meio a tantas refilmagens realizadas nos últimos anos por Hollywood, era de se imaginar que os vampiros de Rice retornariam de seus caixões.

E eis também que neste ano de 2015 a Rocco nos presenteou com uma edição de luxo de a Entrevista com Vampiro: A História de Cláudia. A capa dura, com letras em dourado e miolo em cores (em tons de sépia e vermelho) foram essenciais para que esta graphic novel se tornasse uma aquisição obrigatória para qualquer leitor amante de vampiros e, principalmente, de Anne Rice.

Mesmo sendo parte de Entrevista com o Vampiro, esta versão nos banqueteia com a história de um personagem breve, mas extremamente marcante: Cláudia. Esta criança vampirizada é detalhada em todas suas nuances mais escuras e obscuras. Acompanhamos seu nascimento como vampira, seu amadurecimento - mesmo que eternamente presa em seu corpo infantil e frágil -, seu amor e ódio por seus pais (Louis e Lestat) e sua busca por conhecimento.

“E suponha que o vampiro que o fez não saiba nada... e o vampiro que fez esse vampiro não saiba nada. Assim por diante, o nada precedendo o nada... até o nada! E precisamos viver com o conhecimento de que não há conhecimento.”

Durante a leitura nos tornamos Cláudia, queremos saber mais, queremos ler mais desta história e conhecer todos os segredos que existem neste mundo, mas, tal como a personagem, estamos fadados ao conhecimento que os personagens nos revelam, fora isso, somos meros espectadores da vida de Cláudia, de sua história.

Assim como o livro e o filme, o fim é o mesmo. No entanto a grande diferença mora na profundidade que alcançamos neste relato da vida de Cláudia. Fatos, frases, detalhes... Cada quadrinho uma revelação da menina-mulher tão perfeitamente caracterizada pelo traço de Ashley Marie Witter.

“Eu tinha vivido feito uma boneca, caçando um sonho infantil de aceitação, quando na realidade eu estava além da aceitação ou redenção, partida de forma irreparável, incompleta por criadores apressados e impetuosos, que me condenaram a viver sem uma alma.”

Após ler esta versão tão maravilhosa de uma história que li e reli tantas vezes, me recordei de um trecho da música Warum so tief?* (Por que tão profundo?) da banda Lacrimosa e é com este trecho que me despeço juntamente com o conselho: leiam esta graphic novel, a saboreiam lentamente e se deixem seduzir pelos vampiros de Rice. Prometo, vocês não vão se arrepender!

E assim eu venho mais uma vez perante vocês

Mãe Medo e Pai Dor

Uma criança não adotada – seu sangue flui através das minhas veias

O seu sangue é o meu sangue também

Só uma vez sem medo da dor – eu acreditei que poderia escapar

Correr para longe de vocês e de mim

Mas quanto mais ela me atraia para ela

Cada vez mais eu via vocês em mim

K. S. Broetto

* Curiosidade: Warum so tief?* (Por que tão profundo?) é o título do 4º capítulo de Fassade.

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