19 fevereiro, 2015

Resenha - Confesse-me {Hugo Ribas}


Hector está à beira dos 30 anos e sempre relegou seu sonho de ser escritor em nome de 'empregos estáveis' para ajudar a mãe a sustentar a casa. Em meio a uma revisão de sua vida e como chegou ao ponto em que se encontra, ele expõe ao leitor o dilema que envolve reconhecer aquilo que se é e se deseja fazer na vida, por prazer e não pela simples obrigação das contas a pagar no final de cada mês.

Editora: GIOSTRI
Autor: Hugo Ribas
Páginas: 104


*****

Confesse-me é um livro para pessoas inconformadas.

Logo nos primeiros parágrafos, percebi que Hector, o narrador e protagonista da história, não seria um personagem extraordinário nem viveria situações surpreendentes. Desde a sinopse do livro, o autor propõe ao leitor que conheça um protagonista comum, com uma rotina normal, vivendo questões semelhantes a de muita gente.

Mas isso não é tudo sobre o personagem!

Com uma narrativa fluida e espontânea, Hugo Ribas deu vida a um protagonista de emoções quase tangíveis, que fala do jeito que pensa e deixa bem claro seus sentimentos. Hector conversa com o leitor o tempo inteiro, permitindo-o experimentar a sua vivência e revelando os mais íntimos sentimentos.

O ponto alto da personalidade de Hector é o inconformismo com a própria realidade. Ele está cansado de cumprir as obrigações sociais, submetendo-se a trabalhos que pagam as contas, mas não o direcionam à realização profissional. Ele quer jogar tudo pro alto e dedicar-se integralmente ao sonho de se tornar escritor, mas as circunstâncias sempre o puxam de volta para os empregos considerados normais e “estáveis”.

Então conhecemos um Hector ranzinza, ácido e apático. Ele reclama de tudo e de todos, sempre com uma visão pessimista a respeito de si mesmo – características que podem até se tornar cômicas. Em certos momentos, ficamos entediados e nos sentimos quase contaminados pelo desânimo e insatisfação do personagem. Aposto que era exatamente essa a intenção do autor.

Outra particularidade interessante de Hector é sua relação com os personagens do livro que tanto anseia concluir. Benjamim e Profeta Clara estão presentes durante toda a narrativa, tão reais quanto os outros elementos da história. Eles dialogam, expõem sentimentos, criticam, motivam e interagem de maneira vívida com o protagonista. Isso revela a intensidade do envolvimento e profundo desejo de Hector de se tornar escritor.

Honestamente, não sei se Confesse-me despertaria o interesse de muitas pessoas. O livro pode não ser atraente à primeira vista ou compreendido tão facilmente. Talvez seja necessário um pouco mais de sensibilidade e uma dose de inconformismo para se identificar com o personagem.

Como alguém que também deseja ser escritor e compreende bem os dilemas vividos pelo personagem, digo que Hugo Ribas cumpriu muito bem sua proposta e me fez experimentar a história de forma real e convincente. Posso estar enganado, mas acredito que Hector e Hugo são as mesmas pessoas. Há tanta verdade e emoção que fica evidente a unidade entre obra e criador.

Para quem é apaixonado por livros de fantasia ou romances densos e mirabolantes, sugiro que experimente Confesse-me de um jeito desapegado. A história é breve, rápida e fluida. Vale à pena!

Acredito que cada leitor vai perceber que existe um pouco de Hector dentro de si mesmo.

Abraços e beijos, leitores inteligentes!

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21 comentários:

  1. Nossa, que resenha maravilhosa.
    Preciso ler, amei <3

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    1. Que bom que despertou seu interesse, João.
      Leia mesmo!
      Abração!!!

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  2. Sou inconformista!
    O que significa que Hugo Ribas escreveu pra gente como eu! iupiiiiiiiiiiiiiii
    Eu amei essa resenha, Luan... a cada dia que passa você me surpreende mais e mais... positivamente, claro!
    Estou na fila de leitura de "Confesse-me".
    Obrigada Luan e Hugo... pela excelente resenha e livro.
    beijocas em ambos
    =D7

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    1. Obrigado, friend. Muito bom estar caminhando de maneira positiva!!
      E, siiiim, você e Hector se entenderiam muito bem.
      Beijocas em você também!!

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  3. Eheeee Luan!!! Que alegria ler a sua resenha!!! Fico feliz por você ter gostado de "Confesse-me"... E por ter compreendido os sentimentos desse personagem tão inconformado e ranzinza! hahahahaha Hector é um sonhador exagerado que de repente se vê às voltas com a realidade... Obrigado pelo carinho!

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    1. Inclusive, creio que "Confesse-me" tem tudo a ver com o título do blog... Surtos Literários rsrsrsrsrs

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    2. Ah, que legal ter seu comentário aqui, Hugo!!
      Então... entendo perfeitamente o dilema do pobre Hector. Rs
      E você tem razão, Confesse-me tem tudo a ver com o Surtos Literários. :D
      Parabéns pelo trabalho e esperamos ler mais obras suas.

      Abração, querido!!!
      Até a próxima resenha de seu próximo livro.

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  4. Amei a premissa da obra (bem como sua resenha - uma delícia de leitura)!

    Tenho notado o tom dessas obras, seja no cinema (ou na literatura): a busca constante por aquilo que somos (e o que podemos ser). Vi isso em filmes despojados (mas não menos intensos) como "A Vida Secreta de Walter Mitty", ou do recente "Livre".

    Será que o ser humano, finalmente, está se libertando das amarras narcisistas da sociedade, de forma a encontrar a essência simples do que é (ou pode ser)?

    Se sim, nada melhor do que a Literatura/Cinema para expressar tais valores.

    Parabéns..

    Abraços,
    Wellington.

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    1. Wellington, acho que sim!!
      Percebo que somos uma geração que prioriza a realização a pessoal e a felicidade profissional, sem superestimar o retorno financeiro.
      Isso realmente é muito bom!!

      Obrigado pelo seu feedback tão positivo. Fico feliz!!

      Forte abraço.

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  5. Já gostei só pela resenha,rs, isso de fazer o que se ama, o que se tem prazer é o que há ,nada melhor que fazer o que se quer da vida sem na obrigação da contas..

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    1. Oi, Bia!
      Que ótimo que você gostou. Então, assim que puder, leia.
      E espero que todos possamos viver felizes com os nossos trabalhos, não é?

      Abraço em você.

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  6. Luan, um livro que traz um desejo compartilhado por vc, penso que a Telma realmente escolheu a dedo, e somente vc poderia resenhar de forma tão clara e compromissada com a realidade da obra.

    Hug :D

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    1. Oi, Marcinha.
      Poxa, que comentário super bem-vindo. Obrigadão!!
      Acho que ela escolheu a dedo mesmo. E acertou. Rsrs

      Beijão em você.

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  7. Amei a resenha, e nossa parece ser um livro incrível já está na minha lista :)

    Vanessa | Blog Closet de Livros

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    1. Opaaa!! Então aproveite, Vanessa.
      Obrigado pelo comentário e vou já fuçar seu blog.

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  8. Interessante... Interessante...
    Gostei de sua resenha!
    Parabéns pela escrita! :)

    Abraços!
    Irmãos Livreiros

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    1. Valeu, Daniel. Sempre bom ver você por aqui.
      Um abração!!

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  9. Luan!
    Devo dizer que em certa parte até me identifico com pelo fato de gostar de escrever e não ter 'tempo' para colocar adiante meus escritos, porém daí a me tornar ranzinza e mau humorada, jamais!!kkkk
    Desejo sucesso ao Hugo, porém, no exato momento de minha vida, ando em busca de leituras mais animadas e até hilárias.
    Quem sabe no futuro?
    E lá vem o final de semana...que seja carregadinho de muita tranqüilidade!
    Cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/

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    1. Oi, Rudy!! Então... realmente, deixa o Confess-me pra quando voce estiver em outra vibe. rsrsrs.
      Um forte abraço!!
      Tudo de melhor pra voce. Beijão!!

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  10. Respostas
    1. Muto obrigado, As Extraordinárias!!
      Sejam sempre bem-vindas.
      Abraços!!

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:) :( ;) :D :-/ :P :-O X( :7 B-) :-S :(( :)) :| :-B ~X( L-) (:| =D7 @-) :-w 7:P \m/ :-q :-bd

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