07 junho, 2014

Resenha: A Chave de Sarah



                                                                                            por Cinthia




Livro único
400 páginas
Tatitana de Rosnay
Editora Objetiva


Julia Jarmond é uma jornalista Americana que vive em Paris há 25 anos e é casada com o arrogante e infiel Bertrand Tézac, com quem ela tem uma filha de onze anos. Julia escreve para uma revista americana, e seu editor pede que ela cubra o sexagésimo aniversário da grande concentração no Vélodrome d’Hiver – um estádio no qual dezenas de milhares de judeus ficaram presos antes de serem enviados para Auschwitz.

Ao se aprofundar em sua investigação, Julia constata que o apartamento para o qual ela e o marido planejam se mudar pertenceu aos Starzynski, uma família judia imigrante que fora desapossada pelo governo francês da ocupação, e em seguida comprado pelos avós de Bertrand. Ela resolve descobrir o destino dos ocupantes anteriores. É revelada então a história de Sarah, a única dos Starzynski a sobreviver.

A família de Sarah foi uma das muitas brutalmente arrancadas de casa pela polícia do governo colaboracionista francês. Michel, irmão mais novo garota, se esconde em um armário, e Sarah o tranca lá dentro. Ela fica com a chave, acreditando que em poucas horas estará de volta. Julia é então impelida a retraçar a sofrida jornada de Sarah em busca de liberdade e sobrevivência, dos terríveis dias em campos de concentração aos momentos de tensão na clandestinidade, e por fim seu paradeiro após a guerra. E à medida que a trajetória da garota é revelada, mais segredos são desenterrados.

Ao escrever sobre o passado da França com uma clareza implacável, Tatiana de Rosnay oferece em A Chave de Sarah um contundente retrato da França sob a ocupação nazista, revelando tabus e negações que circundam este doloroso período da História francesa.


Temas sobre a Primeira e Segunda Guerra Mundial sempre ganham meu interesse, e assim que vi esse livro ofertado para empréstimo no grupo livro viajante do Skoob me inscrevi.
Outrora um dos comentaristas do blog havia dito que a maioria dos livros sobre esse tema foca mais o sofrimento dos envolvidos e exclui os fatos do pós-guerra. Amo ler os comentários de vocês, pois paro para pensar em novas visões, refletir de outra forma.
Em a Chave de Sarah temos a visão do passado, presente e futuro de três famílias ligadas por duas pessoas que não se conheceram, mas tiveram suas vidas entrelaçadas pela concentração de judeus no Vélodrome d’Hiver, um estádio de corridas de bicicletas na época.
Em 1942 a polícia francesa faz uma batida e leva milhares de famílias judias presas para o Vélodrome d’Hiver, para depois deportá-las e serem mortas em Auschwitz nas câmaras de gases.
Na atualidade Julia escreve para a revista americana semanal Seine Scenes e lhe é designado a matéria sobre o acontecimento em Paris com os judeus em 1942 por causa da sexagésima comemoração do Vel’ d’Hiv.
O que ninguém esperava era que Júlia fosse se empenhar tanto sobre a matéria e saísse desenterrando o passado trazendo fatos que muitos franceses não desejavam lembrar, ou melhor, faziam questão de esquecer – inclusive sua família – por esconderem algo negro no passado deles.
Seu empenho pode resultar na perda de seu marido, descobertas de um passado encoberto e de pessoas que farão parte da nova vida que ela iniciou no momento de sua pesquisa.


- Puxa! – ele disse com um sorriso perverso. – Mais uma chance de mostrar aos seus compatriotas quanto nós franceses somos desonestos, colaborando com os nazistas e enviando aquelas pobres famílias inocentes para a morte... O que você vai fazer, amour, esfregar isso nos nossos narizes? Ninguém mais se importa. Ninguém se lembra. Escreva sobre alguma outra coisa. Algo divertido, algo bonitinho. Você sabe como fazer isso. Diga a Joshua que o Vel’ d’Hiv é um erro. Ninguém vai ler. Eles vão bocejar e voltar a atenção para a próxima coluna.


As ações são intercaladas entre os acontecimentos da família Starzynski na Segunda Guerra mundial e a família francesa dos Tézac da qual Júlia faz parte. Temos a narrativa em primeira pessoa com a visão de Júlia no presente e de Sarah em 1942. O desenvolvimento dos personagens principais é crescente no decorrer da leitura, são cativantes e consistentes, mostrando todos os personagens secundários de forma concisa, concreta, fazendo a participação deles bastante relevante. Apesar de o passado e futuro serem em separado no livro, a leitura não é cansativa, a autora soube amarrar todos os fatos do passado e presente no novo futuro proposto na história. Um livro que fala de amor, busca da verdade, o poder de nossas atitudes para com as pessoas que nos rodeiam. 
É importante ressaltar que Júlia é uma personagem diferente de todas que já vi nesse tipo de obra. É americana casada com um francês, tida como revolucionária no meio familiar francês por seu jeito mais aberto que eles. 
Apesar de se tratar do extermínio de milhares de judeus deportados pela França em 1942, achei interessante a autora não trabalhar com o foco no sofrimento das pessoas envolvidas na guerra, o ponto principal dela foi o esquecimento. Porque todos “esqueceram” o que fizeram e jogaram a culpa só na Alemanha?  O enfoque dado foi para os dias atuais e o reflexo dos acontecimentos do passado. Uma obra diferente de tudo que já li, uma história linda sobre a vida de Júlia e seu crescimento como ser humano.
No percorrer da leitura ela mostra nitidamente o quão fácil às pessoas esquecem, ou negam um acontecimento até que realmente ele caia no ostracismo do obsoleto, e apesar de logo no início informar não ser uma obra histórica, ela nos reporta à época, de modo que fica difícil separar a realidade da ficção.
Recheado de intrigas, suspense e mistério, indico não só para aqueles que amam o tema, mas para todos que amam ler sobre a perseverança de alguém em busca de si como uma pessoa que pode fazer algo por muitos, com simplicidade, garra e muito amor.

O monumento era de mármore negro com letras douradas desbotadas. Havia sido erigido em 1965 pelo prefeito de Beaune-la-Rolande. Uma estrela de Davi dourada havia sido gravada no topo. E havia nomes. Nomes sem fim. Notei dois nomes que haviam se tornado dolorosamente familiares: “Starzynski, Wladyslaw. Starzynski, Rywka.” ... No mármore preto, não havia qualquer menção de que apenas a polícia francesa havia sido responsável pela administração do campo e por tudo o que acontecera atrás do arame farpado.







Segue abaixo o trailer da adaptação do livro para o cinema:




20 comentários:

  1. Minha educação em história foi meio falha, minha escola amava falar sobre história brasileira, tanto que li até Casa Grande E Senzala, mas sobre história mais atual da Europa sei o básico, então qd um livro aborda o tema eu gosto de ler p/ saber mais =D O nazismo é um tema forte mas interessante.

    Vou add esse livro na minha lista...

    Miquilis: Bruna Costenaro

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    1. Bruna, para você que gosta de saber sobre o tema, vai se surpreender com o livro, o trabalho desenvolvido foi muito bom.

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  2. Cinthia,
    Depois dessa resenha PERFEITA eu PRECISO ler esse livro!
    Quero muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito!
    Tem todos os ingredientes para prender minha atenção, assim como fez sua resenha.
    Garota, suas resenhas são como vinho: melhoram com o tempo.
    Sua linda.
    Beijos....

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    1. Obrigada.
      Amei como foi abordado o tema, sempre culpam só um País por tudo, e esse livro mostra que por trás de muito encoberto há coisas que ninguém ficou sabendo.

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  3. Eu adoro livros com contexto histórico, principalmente quando trata-se de Segunda Guerra. Embora seja um assunto triste, exatamente pelo sofrimento de milhares de pessoas, não deixa de ser um conteúdo curioso e interessante. De fato, livros com esse tipo de tema tendem a focar no sofrimento das pessoas, fico feliz que esse livro tenha mudado um pouco isso e tenha focado também na história da protagonista. Não conhecia o livro, por isso não tinha conhecimento da adaptação. Depois irei procurar saber mais! ;)

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    1. A leitura do livro compensa muito. Não assisti ao filme, mas pelas imagens mostra partes ocorridas no livro e o enfoque diferente também. Creio que vai se surpreender.

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  4. Livros com essa temática sempre me fazem chorar, mas sim fiquei muito intrigada com a história e é mais um que será adicionado a minha lista com certeza.

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    1. Kris, até hoje o que mais me chocou foi a Lista de Schindler. Li e assisti ao filme, realmente choca. Esse não é tão descritivo como o que citei. Mas, o que ocorre ao irmãozinho dela, é difícil viu!

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  5. Esse livro tem tudo para ser perfeito! Principalmente por nos colocar outra visão. Ainda não li mas tenho certeza que vale suas cinco estrelinhas. Quanto Sarah e sua chave, eu ficaria desesperada, tenho um irmão menor, então...

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    1. Larissa, o que ocorre ao irmãozinho dela e com ela... leia! Nossa, fiquei pensando: trancando minha irmã em um esconderijo, pensando que voltaria após algumas horas, mas fui presa... essa angústia e tensão fica o tempo todo com ela e com o leitor.

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  6. muito massa o trailer adorei com certeza irei assistir

    da uma olhadinha no meu blog
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  7. Cinthia!
    Acho importante livros e filmes que retratam a época da guerra porque podemos aprender mais sobre uma época que não vivemos e muitos sofreram atrocidades.
    Cada escritor aborda o tema por sua visão e pesquisa e isso nos enriquece por podermos conhecer o ponto de vista de cada um e formarmos o nosso próprio.
    Livro interessantíssimo!
    cheirinhos
    Rudy

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    1. É, nessa história desse livro, não onde começa a história real e onde termina para iniciar a fictícia. Fui pesquisar algumas coisas a respeito das pessoas e me surpreendi, fiquei chocada até. Parte do pressuposto que algumas partes só são reais, mas e se a pessoa não pode autorizar contar sua história, ou seu descendente não autorizou, eis a questão.

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  8. Olá, sempre fui meio fascinada por tudo que se refere à Primeira e Segunda Guerra Mundial, tanto livros quanto filmes e tudo o mais. Adorei a resenha, com certeza vou ler o livro!!
    Beijos, Lerissa. :D
    lerissakunzler.blogspot.com.br

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  9. Adoro livros que falam sobre algo histórico e coisas do tipo!!! louca para ler o livro.Beijinho.

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  10. Que leitura rica essa en.. e ainda tera um filme! fiquei bem ansiosa para conhecer pq eu amo ler fatos historicos e sempre fico impressionada com tudo que aconteceu nessa epoca, como nao ficar? entao quero muito conhecer oq a autora explorou dessa epoca!!

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    1. O filme já existe, foi lançado. Também me impressiono com a capacidade do ser humano de destruir o outro.

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  11. Cinthia, confesso que fiquei totalmente fascinada pela resenha. Também prendem a minha atenção histórias sobre Guerra. Adorei a forma que você abordou a resenha e parece totalmente envolvente o livro. Você só errou no nome da autora hahaha. Isso é pra mostrar que eu leio a resenha mesmo rs :x
    Parabéns, ficou ótima.

    M&N | Desbravadores de Livros

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  12. Que livro mais... intenso!
    Não sou muito fã de livros sobre guerras e similares, por isso não me entusiasmei tanto com esse.
    Mas sem dúvida vou indicar pro meu pai, que ama esse tipo de história.

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  13. Perfeito, melhor livro que já li história emocionante, enquanto não termina de ler vc não consegue parar... simplesmente amei e amo

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:) :( ;) :D :-/ :P :-O X( :7 B-) :-S :(( :)) :| :-B ~X( L-) (:| =D7 @-) :-w 7:P \m/ :-q :-bd

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