Estou adorando relembrar minhas leituras de anos atrás. Este conto é um de meus preferidos.Tão cinematográfico, profundamente psicológico e com uma virada inesperada.
Clarice sempre olhando para a própria vida para criar seus cenários e personagens.
Uma mulher casada e com filhos, uma vida burguesa no Rio de Janeiro.
Aquela mulher cumpria e cabia em seu papel perfeitamente em seu mundo ordenado e limpo, com algum mal estar aos fins da tarde (fazia parte da rotina este sentimento não entendível).
Certa hora da tarde era mais perigosa. Certa hora da tarde as árvores que plantara riam dela. Quando nada mais precisava de sua força, inquietava-se
No fundo, Ana sempre tivera necessidade de sentir a raiz firme das coisas. E isso um lar perplexamente lhe dera. Por caminhos tortos, viera a cair num destino de mulher, com a surpresa de nele caber como se o tivesse inventado
Com sua força, ela seguia a ordenar a vida familiar, como um maestro que regi cada instrumento em sua orquestra.
Num dia em que ocorreria um jantar com seus irmãos e outros familiares, ela saí para fazer compras e voltando de bonde, seus olhos são tomados de surpresa por um cego mascando chiclete. Seu pacote caí no chão e os ovos estouram na queda.
Depois deste episódio catártico, algo se quebra dentro dela e o mundo ganha uma nova camada de visão, até o momento ignorada por ela.
Poucos instantes depois já não a olhavam mais. O bonde se sacudia nos trilhos e o cego mascando goma ficara atrás para sempre. Mas o mal estava feito
A crueza do mundo era tranquila. O assassinato era profundo. E a morte não era o que pensávamos
É minha minha querida, a vida acontece sem roteiro e toda forma de controle é um embuste psicológico que impomos à nós mesmos para não sofrermos além do necessário e suportável.
Gosto como em Clarice as descobertas se dão como num soco na cara, sem aviso, é quase um clube da luta interior, onde se empanca e expõe a carne esmagada, numa tentativa de busca de sentido e de esperança em si mesmo.
Este conto continua sendo um dos meus favoritos, passou pelo teste do tempo e da maturidade pessoal.
Leiam também a resenha deste conto no Blog Reflexões e Angústias de minha amiga Silvia
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*Conto pertencente ao livro - Laços de Família
Clarice Lispector - Todos os Contos
Editora Rocco - Capa Dura - Pgs 656
Organizador por Benjamin Moser
Marcia Cogitare
Oi Márcia, nossa adoro esse conto. Lembro que o li na época que estava estudando para vestibulares e sinceramente não sabia o que fazer, todos tinham uma opinião sobre a carreira que eu deveria seguir e eu não ouvia a pessoa mais importante, eu mesma. Depois dele lembro que pensei se estava sendo arrastada pelo mundo também e caindo em destinos fabricados por outros. Aquela goma mascada pelo senhor na rua me lembrou o primeiro conto que li da Clarice, "Medo da Eternidade" onde ela faz uma analogia brilhante entre uma goma de mascar e a eternidade, e eu só pensei se o que deixou a mulher tão perplexa com a cena não era também um vislumbre dessa analogia. Enfim, adorei relembrar pelos seus olhos um pouco desse conto que foi tão importante para mim. Beijos
ResponderExcluirJade, também me lembrei deste conto que a menina personagem diz não estar pronta para a eternidade. É muito sensacional ambos os contos.
ExcluirÉ estou amando saber um pouquinho mais sobre você e a Lavinia que estão firmes e fortes no acompanhamento deste projeto.
Hug sua linda
Clarice é realmente fantástica! Eu gostei muito das resenhas que li sobre os contos dela,e agora vejo que, bom, apesar de não ter lido conto nenhum, eu percebo que esses contos são para refletir e deixar a gente inquieto sobre coisas rotineiras. Ah! Esqueci de comentar que na prova do Enem desse ano, caiu uma questão sobre ela! Na hora da prova, pensei "puxa, ainda bem que li um pouco sobre ela e seus contos no blog do Surtos Literários" kkkkk
ResponderExcluirLavinia, nunca pensei que as resenhas pudessem ajudar no Enem, tô desmaiada rs.
ExcluirO Surtos Literários também é utilidade pública rs.
Hug lindona
Antes sobre ela do que a filósofa moderna: Waleska Popozuda.
ExcluirIsso sim, me fez desmaiar! Nunca julguei possível!
rs*
Telma, estamos no Brasil e aqui tudo é possível rs
ExcluirHug
Olá, Marcia!
ResponderExcluirDesculpe a demora pra comentar... estava viajando e sem computador.
Este conto realmente é incrível!
Estamos sempre sujeitos a situações como estas. E acho que quem nunca passou por algo assim é porque nunca parou para olhar à sua volta.
Beijo!
Oi Silvia, não se preocupe com isso rs.
ResponderExcluirAdoro este conto, é tão significativo e cheio de possibilidades.
Como não amar essa Clarice né
Hug