Neste
sexto conto, borá continuar na categoria relacionamentos.
Num
dia de muita chuva e frio nossa personagem que é casada à 12 anos,
toma uma decisão.
Irá
embora, é isso.
Há doze anos era casada e três horas de liberdade restituíam-na quase inteira a si mesma: – primeira coisa a fazer era ver se as coisas ainda existiam.
Neste
pequeno recorte de tempo, ela se depara com o mar e suas águas
profundas, enigmáticas e incertas. Lembra-se de suas confabulações quando criança,
sorri.
Quantos anos faz que ela não tem essa liberdade?. Seu marido a tolhia, até nos pensamentos mais fúteis e banais. Sua presença a fazia menor, um serzinho sem importância e sem vontades. Caindo num loop infinito de mesmice.
Quantos anos faz que ela não tem essa liberdade?. Seu marido a tolhia, até nos pensamentos mais fúteis e banais. Sua presença a fazia menor, um serzinho sem importância e sem vontades. Caindo num loop infinito de mesmice.
Agora está com fome. Há doze anos não sente fome. Entrará num restaurante. O pão é fresco, a sopa é quente. Pedirá café, um café cheiroso e forte. Ah, como tudo é lindo e tem encanto. O quarto do hotel tem um ar estrangeiro, o travesseiro é macio, perfumada a roupa limpa. E quando o escuro dominar o aposento, uma lua enorme surgirá, depois dessa chuva, uma lua fresca e serena. E ela dormirá coberta de luar...
Caminhando
com vocês, nestas primeiras histórias da autora, é interessante
perceber como ela toca à todos os variados tipos de pessoas
existentes.
Quem
nunca em algum momento da vida , quis estar em outra lugar, em outra
situação? Ou mesmo desejou ser outra pessoa?.
Todos
nós gostaríamos de simplesmente sair das situações que nos causam sofrimento. Mas somos adultos e bem sabemos que muitas vezes esta
“fuga” se dá apenas em nossa mente. Ninguém fica sabendo desses
intentos frustrados por algum obstáculo que não podemos superar naquele momento.
A
grande questão neste conto, é como viver com essa decisão mental,
sendo que você ainda está refém desta situação limitante?.
Ah,
Clarice, você não tem dó de seus leitores hein.
Bem, acho que a
vida também não.
Leiam a resenha da minha parceira de Projeto Silvia no Blog Reflexões e Angústias
Clique Aqui
Clarice Lispector - Todos os Contos
Editora Rocco
Editora Rocco
Capa Dura - Pgs 656
Organizador - Benjamin Moser
Esse conto falou muito comigo, Márcia...
ResponderExcluirÀs vezes, eu acho que a maioria das mulheres casadas se sente um pouco assim, mesmo quando não confessa. Eu me sentia exatamente assim... E romper tudo quando se é dependente do outro, quando não se é dona do próprio destino, é algo que exige demais.
A Clarice é absolutamente fantástica!
Quanto mais leio os textos dela, mais admiro sua capacidade de descrever as dores da alma...
Beijo grande!
Silvia, Clarice é mesmo fantástica.
ExcluirEla consegue pegar uma situação cotidiana e dar uma profundidade abissal. Sempre saio surpreendida de seus textos.
E vc falou sobre confessar, e aqui é confessar pra si mesma. Pq esta verdade não pertence ao outro.
Clarice nunca nos deixa impunes depois da leitura
Hug
Isso mesmo... confessar para si mesma...
ResponderExcluirAcho que esse conto toca todo mundo mesmo. E não precisa ser necessariamente sobre o relacionamento, que aparentemente é bem ruim, mas sim, pelo fato de que todo mundo já viajou nessa de querer "sair" pra fora do corpo. Eu já tive isso rs Mas nem sempre é por momentos difíceis, é mais por imaginar como seria. Imaginar é uma coisa fantástica!
ResponderExcluirAh, Lavinia vejo que você tem uma mente bem abstrata, ousada.
ExcluirVocê e Clarice se dariam muito bem :D
Hug
Seria realmente fantástico poder ter a conhecido. Vi o vídeo da entrevista que ela deu para a Cultura e achei ela muito interessante. Na verdade nem sei qual palavra define aquela mulher de mente brilhante.
ExcluirLavinia, vou te contar um sonho que tive uns anos atrás.
ExcluirSonhei que chegava no céu e tinha uma fila imensa e alguém com uma prancheta na mão. E eu só soltei - Vc poderia me dizer onde está Clarice Lispector? rs. Sonho de gente maluca rs.
Clarice é singular, ou vc ama ou odeia, sem meio termo.
Hug :D
Oi Márcia, esse conto só me fez pensar em até que ponto nós colocamos nossas correntes. O que essa mulher queria eram coisas simples que ela foi aceitando se privar pelo casamento, aceitando a imposição do marido e entregando a outro o controle da sua própria liberdade. Beijos
ResponderExcluirJade, este conto e tão tenso. Vc fica num medo de cometer os mesmos erros e se deixar levar de pouco em pouco, até que sua liberdade é sugada pelo Ralo e nada mais sobra, a não ser dor e sofrimento.
ExcluirHug lindona
Ah autora fantástica, como eu queria ser como a sua criação e poder voar para longe sem me preocupar com ninguém :/
ResponderExcluirDaiani, Clarice é fantástica como vc mesma disse e que bom que vc tem curtido os contos.
ExcluirHug
Esse conto também falou comigo ... querer fugir... quem nunca? Bjo
ResponderExcluirCamila, querer fugir ou ser outra pessoa já passou pela cabeça de todo mundo em algum momento da vida.
ExcluirHug