10 setembro, 2016

Os Afogados e os Sobreviventes - Primo Levi






O dia a dia no campo de concentração de Auschwitz. A disciplina cega da SS, os prisioneiros debilitados que aceitavam o colaboracionismo como único modo de escapar, os milhões que tiveram seu futuro negado pelo simples fato de serem judeus. Primo Levi reconstitui lembranças, memórias, faz história oral. E cada palavra, cada recordação, cada ponto de vista seu aqui relembrado objetiva esclarecer as novas gerações, demasiadamente afastadas, do horror que foi a guerra. 











Editora Paz & Terra
Págs 168




Este livro opta por um caminho incomum na literatura sobre relatos de sobreviventes dos campos de concentração alemães  e que a grande maioria dos leitores estão acostumados.
Ele propõe um pensar sobre o que ocorreu com os judeus e demais pessoas que estavam nestes campos de concentração. E mesmo sendo um livro considerado pequeno em volume de páginas, exige bastante atenção e reflexão do leitor.



Primo Levi era italiano e químico , é bastante conhecido pelo seu livro – É isto um homem?. Que também trata sobre o extermínio dos judeus nos campos de concentração.



No primeiro capítulo (A memória da ofensa) de os afogados e os sobreviventes, ele já estabelece um conceito muito importante para acontecimentos antigos quanto a segunda guerra mundial.



De forma muito sóbria, nos mostra que a mémoria não é 100% confiável, não somente para os relatos dos sobreviventes, mas como também para os seus algozes. Com a diferença de que se existe diferenças nos relatos entre os sobreviventes não é por ser algo forjado ou mesmo mentiroso. É apenas a reconstrução da memória com suas falhas e limitações.
Ao contrário desses últimos, que usam a mémoria de forma ilegítiva, sobretudo diante dos tribunais.
Talvez seja numa tentativa desesperada de fugir da culpa de tais atos ou ainda apenas escapar da justiça dos homens.

A frase mais repetidas nos tribunais, era que estavam apenas cumprindo ordens e que não tinham conhecimentos pleno dos fatos.


Penso que nos é díficil julgar com eficácia a cada envolvido (a maioria já está morta) , já que estamos distantes dos fatos ocorridos, seja no tempo e geograficamente.
Concordamos todos numa coisa, os campos de concentração foi algo desumano, e não queremos que ocorra novamente em nossa geração e nem nas vindouras.


Deixando as opiniões pessoais um pouco de lado, vamos ao livro.


No segundo capítulo, chamado de Zona Cinzenta, o autor irá relatar que alguns judeus eram escolhidos para compor a equipe que iriam para o trabalho nas câmaras de gás e nos fornos crematórios. Estes tinham algum privilégio e eram separados dos demais.


Aqueles que se recusavam fazer parte do Sonderkommandos, era assim que se chamavam as equipes de “assassinos” do próprio povo.
Eram também mortos e os que aceitavam o trabalho, lhe eram fornecidos bebidas alcoolicas para que ficassem bebados e menos atormentados por sua consciencia.



Piedade e brutalidade podem coexistir, no mesmo indivíduo e no mesmo momento, contra toda a lógica; de resto, a própria piedade foge à lógica…



Este quote do livro não se refer aos sonderkommandos, mas aos presos que estando na mesma situação de decrepitude, exerciam sua violencia e mesquinhez contra seus companheiros de desgraças.
Não existia qualquer clima de solidadiedade, mas cada qual tomava conta de si mesmo, desprezando o outro e se tornando - se a  cada dia um animal veroz e dominado apenas por seus  instintos de sobrevivencia.



Um detalhe importantíssimo e que nunca tinha me passado pela cabeça ao ler os vários livros sobre este tema. É a questão da língua falada neste ambiente.
Um alemão chulo, como se fosse uma gíria de determinada classe social ou mesmo um regionalismo.
Primo Levi nos chama à atenção para este fato, e nos conta que os italianos eram os que mais sofriam. Inclusive muitos foram mortos entre os 15 primeiros dias da chegada ao campo por não compreenderem uma única palavra em alemão.



A única coisa que o autor se equívocou e se indignou indevidamente, foi ao citar o conceito de super homem em Nietzsche que o nazismo se apropriou de forma indevida dando a conotação de raça superior como bem sabemos.




Alguns Quotes


O mundo no qual se precipitava era decerto terrível, mas também indecifrável: não era conforme a nenhum modelo, o inimigo estava ao redor mas também dentro, o “nós” perdia seus limites, os contendores não eram dois, não se distinguia uma fronteira mas muitas e confusas, talvez inúmeras, separando cada um do outro




...Birkenau era o único lugar no mundo em que existia a possibilidade de examinar cadáveres de gêmeos assassinados no mesmo momento





Na memória de todos nós, sobreviventes, sofrivelmente poliglotas, os primeiros dias no Lager (no campo de concentração) ficaram impressos sob a forma de um filme desfocado e frenético, cheio de som e fúria, e carente de significado: um caleidoscópio de personagesn sem nome nem face, mergulhados num contínuo e ensurdecedor barulho de fundo, sobre o qual, no entanto, a palavra humana não aflorava...






Irei parar por aqui, quero que vocês leiam o livro e que mesmo tendo uma linguagem dura, é fundamental para os interessados por esta temática.






* Possíveis erros de ortografia e digitação, serão corrigidos em minha releitura do texto



Marcia Cogitare









12 comentários:

  1. Meu Deus... parece um puta livro... mas um livro que vai me levar direto para a BAD ZONE!
    Isso acaba comigo.
    Os quotes são sensacionais. Bem escrito pra caramba, né?
    como vc mesmo disse, uma coisa é certa: nunca mais queremos a merda do holocausto!
    beijos muitos
    :)

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    1. Telma este livro é Bad vibe total.

      Mas é preciso a leitura de livros assim, afinal não queremos compactuar com novos tipos de extermínio.

      Hug

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  2. Olá!
    Pode parecer estranho, mas histórias sobre o holocausto me interessam muito. Essas histórias sempre me fazem pensar em como o ser humano pode chegar a extremos por orgulho e preconceito. Me interessei bastante por este livro, e tenho uma lista extensa de desejados de livros sobre o assunto. Adorei sua resenha.

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    1. oi lara, te entendo perfeitamente. Também me interesso muito por esta temática rs.

      E pode ler, é um livro obrigatório sobre holocausto.

      Hug

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  3. Me interesso muito por livros com esse tema. Embora sejam sempre algo tristes, eles nos fazem refletir sobre a humanidade e questões filosóficas, então, gosto bastante. Este parece ser mais um que vale a pena ser lido XD

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    1. Oi Lavinia, este livro além de relatar as atrocidades do campo de concentração de forma homeopática, o foco dele é pensar em cima destes fatos.
      A leitura é lenta,, mas recompensadora.

      Hug

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  4. Ler sobre esse holocausto e entender tudo que aconteceu nesse momento histórico, me faz pensar e repensar no momento em que estamos vivendo hoje, e por quanta mudanças passamos ao decorrer dos séculos. O livro parece retrata de maneira muito real tudo que aconteceu nos campos de concentração o que me leu ainda mais sobre o interesse desse livro.

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    1. Oi Lana, concordo com vc , é preciso fazer esta reflexão para vermos o quanto evoluímos ou retrocedemos em nossa humanidade.

      Este livro tem essa proposta da reflexão e não apenas o citar fatos do holocausto e isso o diferencia dos outros livros de mesmo tema.

      Recomendo

      Hug

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  5. Oi, Marcia!
    Gosto muito de livros com esse tema, apesar de ser um assunto muito pesado e triste. Mas é como você comentou, precisamos estar cientes de tudo que ocorreu, tanto historicamente, como também em homenagem a memória dessas pessoas que perderam suas vidas e para que esses fatos fiquem somente no passado. Livros assim são muito reflexivos e terminamos a leitura com uma sensação de vazio no coração, de tristeza por imaginar como o ser humano pode ser cruel e nada humano! Ótima resenha, como sempre.
    Marcia, respondi seu comentário, no post anterior "Eu Indico". Beijos!

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    1. oi Márcia, mesmo com um peso no coração, é preciso encarar este tipo de literatura.
      Quem sabe aprendemos com a alienação alheia. A literatura acaba fazendo um serviço social e humanitário neste sentido.

      Ah, obrigada por responder minha pergunta, irei agora mesmo responder.

      Hug

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  6. Marcinha,
    Não conhecia esse livro mas ameeeei, ele é sua resenha!!!
    Quando vc diz "Com a diferença de que se existe diferenças nos relatos entre os sobreviventes não é por ser algo forjado ou mesmo mentiroso", será que o psicológico deles tbm foram afetados fazendo com que essas "diferenças" para eles fosse a realidade?
    (Não sei se dá pra entender o que eu quiz dizer kkkkkk)

    Adooorei!!!!!

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    1. Daiani, a pessoa que passou por isso tudo, pessoalmente nem sei como ela consegue superar no físico e na alma todo o sofrimento imposto pelos nazistas. Tanto que muitos judeus se mataram após a libertação dos Campos.

      Mas as diferenças de relatos é mais um ato da memória, da reconstrução das memórias propriamente.
      É algo inconsciente.

      Hug

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