Clarice
nos apresenta um conto psicodélico malucaço e um personagem sem
nome. É quase um apocalipse, uma visão pitoresca do que acontece na
cabeça desse sujeito.
A Terra continuamente exaurida murcha, murcha em dobras e rugas de carne morta. A alegria dos nascidos está no auge e o ar é puro som. E a Terra envelhece rápida... Novas cores emergem dos rasgões profundos. O globo gira lentamente, lentamente, cansado. Morrendo. Um pequeno ser de luz nasce ainda, como um suspiro. E a Terra se some
De cara já nos joga no cotidiano melancólico do personagem , criando ambientes e situações duvidosas.
Quando
iniciei minha leitura, pensei se tratar de um cara internado num
hospital psiquiátrico, mas não.
Muito
lentamente, vamos adentrando ao espaço misterioso que este
personagem ocupa. Uma pensão em num lugar indefinido. Conhecemos
apenas a dona da pensão por nome, D Marta, acompanhada de sua
sobrinha morena (também sem nome).
Embora
a autora use de imagens amalucadas para descrever a essência desse escritor orgânico, que não consegue distinguir a realidade das
coisas criadas por sua cabeça em seu ofício.
Através
das noites insones e de leituras frenéticas, seu corpo e suas
energias vão sendo minadas neste processo.
No entanto, não experimenta alívio especial após a resolução de seguir uma vida mais fácil. Sente pelo contrário uma ligeira impaciência, uma vontade de se esgueirar como se o estivessem empurrando. Invoca um pensamento poderoso que o faça pousar sossegado sobre a ideia de se modificar: mais uma doença dessas talvez fique inutilizado
Quando
terminei de ler este pequenino conto, me lembrei que a única
entrevista dada por Clarice no ano de 1977 (em dezembro deste ano,
ocorre seu falecimento), quando ela estava bastante debilitada. Ela
aborda muito o assunto sobre o papel do escritor e sobre como ela
mesmo se via como escritora.
Leiam a resenha da minha parceira de Projeto Silvia no Blog Reflexões e Angústias
Não
direi mais nada por hoje. Deixo Clarice falar agora
Clarice Lispector - Todos os Contos
Editora Rocco
Capa Dura - Pgs 656
Organizador - Benjamin Moser
Que coisa boa ler sua publicação, Marcia !!!
ResponderExcluirVi que não fui a única a ter dificuldade para desvendar esse delírio...
😄
Talvez nos tenha faltado algum estímulo delirante para entrar no clima :D
ExcluirHug
Como assim ? fiquei curioso, para ler este conto, já que adoro dar uma especulada sobre finais
ResponderExcluirOi Gilberto, acho que vc simpatizava com o final deste conto.
ExcluirD:
Gostei do tema desse conto! Quero muito lê-lo! Me lembrei do livro "O outro lado", só porque o personagem das duas histórias sofrem de problemas psicológicos. Que mundo louco desse personagem sem nome.
ResponderExcluirOi Lavinia, gosto de conto que envolvem o psicólogo ou mesmo a própria loucura.
Excluir:D Hug
Oi Márcia, lendo sua resenha só conseguia pensar em como é tênue a linha entre a realidade e o inconsciente. O que mais admiro na Clarice é essa capacidade de tratar dos mais diferentes assuntos na sua obra, desde corações partidos a mentes perturbadas. Esse é mais um conto que não conhecia mas devo ler, acho que vou facilitar minha vida e ler logo o livro com a obra completa kkk. Beijos
ResponderExcluirOi Jade Clarice realmente ataca em todas as frentes, o que torna o livro bem bacana.
ResponderExcluirE pra quem curte a autora este livro é Mega recomendado.
:D
Hug