Joe Speedboat – Tommy Wieringa

Fransje, o narrador de Joe Speedboat, tem 15 anos e acaba de sair de um coma no qual entrou depois de um terrível acidente, seis meses antes. Não pode andar nem falar. Seu único meio de locomoção é uma cadeira de rodas; e ele só é capaz de se expressar através da escrita, que pratica usando o braço e a mão direitos, os quais continuam intactos. É dessa forma que ele registra cada detalhe da vida cotidiana em Lomark, o povoado onde mora. Seus diários, seu senso de humor e os ensinamentos do grande samurai Miyamoto Musashi são os três eixos da vida de Fransje, que muda radicalmente quando ele conhece Joe Speedboat – um rapaz extraordinário, que caiu sobre a letárgica Lomark com a força de um meteorito enquanto Fransje estava em coma. Joe é um menino excepcionalmente vital e rebelde, que apresenta uma intrepidez típica de outros tempos e uma engenhosidade fora do comum. Além disso, é a única pessoa capaz de vislumbrar algum potencial na deficiência do parceiro. Eles virão a se tornar amigos inseparáveis e, quase sem perceber, trilharão juntos o caminho da inocência à idade adulta.
Joe Speedboat é um romance originalíssimo sobre a amizade, o amor, a força da imaginação e as contradições da vida, escrito num estilo poderoso e maravilhosamente irônico.

Rádio Londres

Págs 334

A Rádio Londres no traz mais um holandês brincalhão e ácido - “Para nossaaaa alegriaaaa...”

O livro Joe Speedboat é uma espécie de biografia ficcional, bem como também uma biografia regional.

Numa vila chamada Lomark meio isolada na Holanda, cheia de pessoas comuns e interessantes, sim , isso é possível. 
Somos introduzidos a esta vila,  através da narrativa muito fluída de um garoto de 15 anos (logo falo dele).

Tenho certeza que  o leitor certamente se sentirá como um dos moradores deste pequeno mundo holandês.

Pelos menos, eu no decorrer da leitura me senti em casa, este enredo poderia ser transposto para qualquer lugar mais “rústico” em qualquer recanto de nosso imenso país.

A identificação com as paisagens e com alguns dos personagens, foi um elemento decisivo a favor do enredo construído, com exceção do inverno rigoroso, claro.

Wieringa de forma surreal ou algumas vezes nonsense nos mostra as várias realidades dos moradores desta aldeiazinha que logo ficará isolada após a construção de uma rodovia que não dará passagem a estrada.

Fansje um garoto ainda adolescente, onde recém saído de um coma, volta pra casa com sua família escrota (somente a mãe dá atenção a este garoto), não somos informados qual tipo de de acidente o levou a entrar no coma.

A narrativa acabará por  acompanhar sua adolescência até a entrada de sua vida adulta. Este personagem  será nosso cicerone , o narrador da história, e através dele iremos conhecer Joe Speedboat um garoto incomum, que veio de outro lugar para àquela vila sem graça e até mesmo congelada no tempo.

Mesmo o título do livro sendo Joe Speedboat, você não consegue saber quem é de fato o personagem central desta história, Fransje e Joe são dois amigos inseparáveis e a narrativa geral em torno de ambos.

Este livro tem muito o tom dos filmes dos anos 80 com a molecada vivendo altas aventuras rs, tipo o clube dos 5, Goonies e por ai vai.

É uma delicinha ver os diálogos e o crescimento destes meninos.

Um aspecto muito bem explorado pelo autor é o fato de desenvolver personagens que poderiam facilmente ser pessoas num mundo real , você sente as dificuldades e suas dores como também o ridículo de algumas atitudes, isso é ser humano. 

Interessante que Franjge com suas limitações físicas (cadeira de rodas, não fala e somente um dos braços funciona).

Ele é quem mais se desenvolve como pessoa, intelectualmente e até mesmo fisicamente.

Não existe um coitadismo da parte dele, ele é a pessoa de visão mais sóbria daquele lugar, ele lê as pessoas e suas realidades.

Curti muito quando Fransje descobre um meio dele se comunicar e de interagir com o mundo, ele se descobre na escrita, e acaba por escrever como uma testemunha do cotidiano dos moradores. Seu pequeno quarto têm prateleiras cheias dos diários escritos por ele.

Assim como Fransje tinha ao seu amigo Joe, acabei por compreender a força que uma pessoa que lhe vê além das superficialidades pode fazer por você, sem dúvidas te joga para frente na vida.

É exatamente isso que Joe faz com Franjge, descobre nele algo que ele não sabia ser possível.

Coisa linda!!!

A única coisa que me incomodou um pouco foi a transição do tempo que não ficou muito claro pra mim à medida que os anos avançavam na narrativa. 

O desfecho do livro poderia ter sido trágico, mas o autor escolheu o bom humor e a ironia, adoroooo. 

Alguns quotes

Quando escrevo, costumo pensar no grande samurai Miyamoto Musashi, que diz que o caminho trilhado por um samurai é duplo: há o da espada e o da pluma, da caneta, em outras palavras. O caminho da espada é difícil demais para mim; só me sobra mesmo o da pluma. Tirei isso do Go Rin No Sho, o livro dos cinco anéis, um livro que encontrei na biblioteca e estraguei de tanto manusear. Nunca devolvi

Mais que um cara excepcional, ele era uma força libertadora.Estar perto dele dava comichões – a energia se transformava em algo palpável em suas mãos; do nada, ele tirava das mangas bombas, motocicletas de corrida e aviões, e fazia com eles malabarismos como um mágico inconsequente. Nunca antes eu conhecera alguém que pusesse suas ideias em prática com tanta naturalidade, tão imune ao medo e às convenções

Ela gosta de você – diz Angel a Joe  - Entre nós, você é quem atrai as mulheres – retruca Joe - A mim, interessam exclusivamente as coisas que funcionam a gasolina

Lá ia eu, carrancudo, na charranga, sem a menor ideia de onde ele estava me levando. Com um só golpe, conseguiu reduzir a cacos meu isolamento tão zelosamente cultivado.
As pessoas no olhavam. De noite, à mesa, diriam que Fransje Hermans tinha uma enfermeira de bigode. Parecíamos dois idiotas, Husseini e eu

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PS.: Possíveis erros gramaticais ou ortográficos serão corrigidos em minha releitura

Marcia Cogitare