04 fevereiro, 2017

A Mensagem





As vezes penso que escrever é uma espécie de transe, um além mundo das percepções. Clarice sempre me passou esta ideia descolada da realidade visível.
E este conto tem muito disso, é uma viagem interior, difícil de explicar de forma racional.


Temos aqui um casal de adolescente que saem de sua última aula e entram nas férias escolares.
O rapaz infeliz e angustiado, se conecta com sua parceira pela palavra angústia , dita por ela em uma das suas várias conversas.


Viu-se conversando com ela, escondendo com secura o maravilhamento de enfim poder falar sobre coisas que realmente importavam; e logo com uma moça! Conversavam também sobre livros, mal podiam esconder a urgência que tinham de pôr em dia tudo em que nunca antes haviam falado


Existe um incomodo entre estes personagens, talvez por serem adolescentes isso fique mais intenso e confuso no texto. O leitor não sabe bem ao certo o que estes buscam, mas sabe que existe algo nebuloso no interior destes personagens.


O ideal os sufocava, o tempo passava inútil, a urgência os chamava – eles não sabiam para o que caminhavam, e o caminho os chamava. Um pedia muito do outro, mas é que ambos tinham a mesma carência, e jamais procurariam um par mais velho que lhes ensinasse, porque não eram doidos de se entregarem sem mais nem menos ao mundo feito


E a coisa pende sempre para conversas existencialistas e quase nunca para algo sexual (o que seria o comum nesta idade de descobertas).


Este conto me fez pensar muito sobre o que liga as pessoas umas as outras. Na verdade ainda estou pensando nisso com calma e não cheguei num ponto maduro sobre este tema.


Aqui era um vocábulo, a palavra angústia que logo se esvazia e se gasta na relação dos dois.


Ambos tinham, na verdade, repugnância pela maioria das palavras, o que estava longe de facilitar-lhes uma comunicação, já que eles ainda não haviam inventado palavras melhores: eles se desentendiam constantemente, obstinados rivais


Acredito que muitas pessoas buscam um caminho mais artístico (umas pintam, outras tocam algum instrumento...), por terem entendido que as palavras são o modo mais frágil e enganoso de se expressarem.


Essa busca da própria voz, da própria individualidade no mundo, é uma necessidade humana que precisa ser sanada.


Minha amiga Silvia também escreveu sobre este conto. 
Para ler só Clicar Aqui




*Este conto faz parte do livro - A Legião Estrangeira





Clarice Lispector - Todos os Contos
       Editora Rocco - Capa Dura - 656 Pgs
        Organizado por Benjamin Moser

                   
                    Marcia Cogitare





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