Uma mulher invisível socialmente. Ainda naquele tempo, se vivia à sombra do homem.
Flora uma mulher sonhadora, versátil, mãe solteira e amante de Cristiano.
Clarice descreve a espera dessa mulher , que sabe que existe como pessoa e sabe de toda a sua potencialidade, mas que por alguma razão, se vê esperando seu amante num bar.
E esta espera a vai consumindo e a levando a pensamentos desconexos para preencher o tempo em que passa ali esperando por Cristiano.
Espera, e sente o constrangimento de todos à sua volta estarem acompanhados e ela ali num canto solitária e cheia de incertezas.
Ainda hoje sentimos os vestígios de tal realidade, vinda dos séculos passados.
Que a mulher não pode ir à uma festa ou a um cinema sozinha. Muitas mulheres ainda se sentem constrangidas, perdidas, inadequadas em tais situações.
Parece a dor fantasma de um membro físico que já não existe, mas a dor persiste.
E a maioria dos homens que as vêem sozinhas nestes ambientes, pensam que estão a procura de um caso para preencher sua noite (bem, não nasci grudada com macho. Na verdade nasci, já que sou gêmea de um menino).
Me desculpem pela grosseria, mas é que me descontrolo quando ouço tais diálogos, e estes não são diálogos ficcionais, uma pena.
Sim, podemos nos divertir sem ter que recorrer a alguém do sexo oposto. Mas tem homem que ainda pensa o contrário. Só lamento (tô azeda hoje , aguentem rs).
Realmente nada aconteceu naquela tarde cinzenta de abril. Tudo, no entanto, prognosticava um grande dia. Ele lhe avisara que sua vinda constituiria o grande fato, o acontecimento máximo de suas vidas. Por isso ela entrou no bar da Avenida, sentou-se junto a uma das mesinhas da janela, para vê-lo, mal apontasse na esquina. O garçom limpou a mesa e perguntou-lhe o que desejava. Dessa vez justamente não precisava ficar tímida e ter medo de cometer uma gafe. Estava esperando alguém, respondeu. Ele olhou-a um momento. “Será que tenho um ar tão abandonado que não posso estar esperando alguém?” disse-lhe:
– Espero um amigo.
Acredito que passou da hora de abandonarmos a canção de Fábio Jr (a metade da laranja…) e tudo que configura este tipo de pensamento dependente da figura masculina.
Eu me basto, não sou incompleta, não busco minha cara metade e blábláblá…
E esta forma de pensar nos afeta em todos os âmbitos e não somente entre as 4 paredes.
Parece que nós mulheres sempre estamos em débito. Isso é extremamente cansativo. Sobretudo no campo profissional.
Os papéis fixos já caíram em desuso. Hoje quem sai na frente é quem pensa numa “identidade” móvel, que se permite ser e ter características de ambos os gêneros.
Claro que para muita gente isso é algo estranho, e que prefere manter os modelos antigos e ultrapassados.
Modelo onde se disputa e se digladiam, a luta entre os gêneros, que só trazem cansaço e amargura. Só há perdedores nesta disputa árida e irracional.
Borá reciclar nossos conceitos sobre gênero, isso só nos trará o bem.
Leiam também a resenha da Silvia do Blog Reflexões e Angústias, tenho certeza que você irá curtir.
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E esta forma de pensar nos afeta em todos os âmbitos e não somente entre as 4 paredes.
Parece que nós mulheres sempre estamos em débito. Isso é extremamente cansativo. Sobretudo no campo profissional.
...Ora, naturalmente que ela sabia fazer diversas coisas e até muito bem-feitas. Mas ela não era nenhuma daquelas personalidades que encarnava para se divertir ou por necessidade. Flora era outra que ninguém descobrira ainda! Eis o mistério
Os papéis fixos já caíram em desuso. Hoje quem sai na frente é quem pensa numa “identidade” móvel, que se permite ser e ter características de ambos os gêneros.
Claro que para muita gente isso é algo estranho, e que prefere manter os modelos antigos e ultrapassados.
Modelo onde se disputa e se digladiam, a luta entre os gêneros, que só trazem cansaço e amargura. Só há perdedores nesta disputa árida e irracional.
Borá reciclar nossos conceitos sobre gênero, isso só nos trará o bem.
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Capa Dura - Pgs 656
Organizador - Benjamin Moser
A mulher é parceira do homem desde que a raça humana existe. Antes de diferença de etnia ou qualquer outra minoria que brigue por reconhecimento, já representávamos 50% dos seres. E parece que a mulher ser vista como uma pessoa com os mesmos direitos dos homens será a igualdade mais difícil de ser obtida... É impressionante isso...
ResponderExcluirSeguimos na batalha...
Beijo!
Oi Silvia, realmente chega ser ridículo ainda falarmos sobre direitos nesta altura do campeonato. Deveria ser algo natural, mas ainda não é.
ExcluirInfelizmente neste quesito ainda estamos na era primitiva.
Hug
Gostaria de ler esse conto também. Coitada da personagem, tão desiludida. Quem dera pudéssemos entrar nas páginas do livro e dizer a ela que ela pode dançar, beber, sair e fazer qualquer coisa que lhe der na telha sem a presença de um homem ao seu lado.
ResponderExcluirLavinia, o pior de tudo que mesmo em 2016, ainda muitas mulheres cultivam o ideal do amor romântico.
ExcluirE isso tem acabado com as relações reais.
Hug :D
A obra ds Clarice é incrível no empoderamento feminino, ela não fala do que deve se fazer e sim nos faz pensar em como as atitudes arcaicas e patriarcais são absurdas. Acho que contos como esse são uma das maiores formas de mudar nosso pensamento, vemos essa mulher se sentir estranha e julgada pelos outros só por estar sozinha momentaneamente (alguém conta pra eles que ficar só pode ser muito maravilhoso!). O que achei mais interessante é que independente dos outros ela mesmo peca ao se julgar e procurar desculpas pela ausência do homem. É como você disse na sua resenha Márcia: ela precisa aprender a se bastar. Beijos
ResponderExcluirJade,quando li este texto me deu uma tristeza danada.
ExcluirEste texto deve ter uns 50 e estamos lutando pelas mesmíssima coisas. Bate uma bad, mas não podemos esmorecer.
A batalha é árdua minha amiga.
Hug :D
Que dó dela :(
ResponderExcluirOdeio que as pessoas ainda olhem para nós como "coitadinha da sociedade" só por estarmos sozinhas, coisa chata gente.
É exatamente tudo o que vc disse Márcia..
Acho que as pessoas (homens) ainda não entenderam que não precisamos dele para tudo :/