Tirza - Arnon Grunberg

Jörgen Hofmeester tinha uma vida perfeita: uma esposa atraente, uma casa com jardim em um bairro nobre de Amsterdã, uma carreira prestigiosa como editor de livros de ficção estrangeira, duas filhas lindas, Ibi e Tirza, e uma conta-corrente na Suíça. Uma vida burguesa, sossegada, que acaba sendo subvertida por uma série de eventos dramáticos: Ibi, pouco mais que uma menina, é flagrada em situação constrangedora com o inquilino de Jörgen e, depois desse episódio, resolve ir embora para sempre da casa do pai; a esposa de Hofmeester abandona a família em busca de "autorrealização"; a editora, em decisão unilateral, o aposenta antecipadamente; Tirza, a caçula e filha predileta, objeto da obsessão paterna, quando conclui os estudos, parte para uma longa viagem pela África com o namorado marroquino, que guarda inquietante semelhança com Mohammed Atta. A narrativa começa com Hofmeester preparando meticulosamente sushis para a festa de formatura e despedida de Tirza. Por trás do aparente autocontrole de Hofmeester e de seu desprezo por qualquer emoção, há uma violência reprimida, uma tensão constante, uma ameaça invisível, elementos que dominarão a trajetória do protagonista até o imprevisto e desconcertante final. Tirza é, ao mesmo tempo, um romance assustador e fascinante, divertido e sinistro, a história de um homem em desesperada, embora inútil, busca por salvação.

Rádio Londres

Págs 460

Anotem este nome Arnon Grunberg.

Este holandês que chegou com tudo por aqui, conseguiu me deixar extasiada com sua escrita meticulosa ,tensa e de uma obscuridade psicológica impensável e sentível (nem sei se existe esta palavra).

Tirza é o nome de umas das personagens do livro, no caso a filha mais nova de Jörgen Hofmeester, um editor de literatura estrangeira que nunca em sua carreira de 30 anos, conseguiu revelar um único autor que fosse realmente relevante.

Este livro irá nos contar a história de um pequeno e tumultuado núcleo familiar, composto por um pai controlador , uma mãe que desde o inicio da narrativa largou sua família para viver um amor de juventude (isso está na sinopse do livro, não é spoiler) e suas duas filhas - Tirza que vive entre o intervalo de formatura e sua ida à faculdade e a irmã mais velha Ibi que reside na França com um namorado negro a contragosto do pai.

Tirza é um romance de personagens, você poderia alterar o cenário (e mais de 80% do livro se passa na casa dessa família) e possivelmente a história não sofreria grandes mudanças.

Dito isso, a narrativa é construída com um fiapo de história, temos então Hoofmester preparando uma festa de despedida para Tirza que irá viajar com o namorado marroquino para a África.

Ou seja é uma família muito mas muito desestruturada, o autor nos manipula, de inicio não percebemos estes problemas grotescos. 

Ah Seu Grunberg o senhor é o cara.

A grande sacada do autor foi conseguir arquitetar um personagem tão cheio de camadas dark pra cara@#$ e de uma forma assustadoramente crescente (eu cheguei a sentir medo durante a leitura), onde o leitor vai sentindo cada passo que o autor dá na direção do grande clímax (e o final deste livro explodiu minha cabeça, nossaaaa, até agora ainda estou pensando nele).

Outro elemento interessantíssimo do livro é o clima noir, onde o que parece ser não é.

As ironias presentes nos diálogos são na medida certa, principalmente nos diálogos entre Hofmeester e a ex esposa, simplesmente surreal.

Olha, fazia um tempo que um livro não me empolgava tanto.

Para os amantes de cinema, em 2010 Tirza ganhou sua adaptação para as telas, dirigida pelo diretor holandês Rudolf van den Berg .

Melhor leitura do ano de 2015 , indico com força

Alguns quotes

Hofmeester ainda não se acostumou à presença dela. Ela foi embora já faz três anos. O curso “Faça seu próprio sushi e sashimi” não ajudou

Você está louca, repetiu ele. Ainda mais louca do que antes. Por que tudo tem que ser verbalizado, por que você não pode deixar as coisas em paz, por que não tem nenhum respeito pelo silêncio? Por que ele é tão ameaçador para você, tão insuportável?

O futuro está no esquecer. Hofmeester parou os estudos de História depois de seis meses e foi estudar Alemão e Criminologia. Não conseguia esquecer nada. Por isso mesmo tateava ao redor de seu próprio passado como um cego

Ainda fomos para a França, conta ela. Mas lá também não deu certo. Esperma morto não volta à vida na França

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PS.: Possíveis erros gramaticais ou ortográficos serão corrigidos em minha releitura

               

                                      

Marcia Cogitare