23 janeiro, 2015

Resenha: Fale!



“Fale sobre você... Queremos saber o que tem a dizer.” Desde o primeiro momento, quando começou a estudar no colégio Merryweather, Melinda sabia que isso não passava de uma mentira deslavada, uma típica farsa encenada para os calouros. Os poucos amigos que tinha, ela perdeu ou vai perder, acabou isolada e jogada para escanteio. O que não é de admirar, afinal, a garota ligou para a polícia, destruiu a tradicional festinha que os veteranos promovem para comemorar a chegada das férias e, de quebra, mandou vários colegas para a cadeia.


E agora ninguém mais quer saber dela, nem ao menos lhe dirigem a palavra - insultos e deboches, sim - ou lhe dedicam alguns minutos de atenção, com duvidosas exceções. Com o passar dos dias, Melinda vai murchando como uma planta sem água e emudece. Está tão só e tão fragilizada que não tem mais forças para reagir.

Finalmente encontra abrigo nas aulas de arte, e será por meio de seu projeto artístico que tentará retomar a vida e enfrentar seus demônios: o que, de fato, ocorreu naquela maldita festa?

 Fale!
Laurie Halse Anderson
ISBN: 9788565859073
Ano: 2013 / Páginas: 248
Editora: Valentina

Queridões,

Esse livro, como tem acontecido até aqui neste pequeno espaço da parceria com a Editora Valentina, me surpreendeu!

Li nas férias de fim de ano. 

Queria algo leve e descompromissado e recebi uma leitura fácil, leve (em se tratando de fluência) mas extremamente reflexiva.

Ao final da leitura percebi que eu tenho muito de Melinda, a personagem principal do livro.

Acredito que se você ler o livro, vai reconhecer-se nela também, de uma forma ou de outra.

Ao contrário de Melinda, sempre me fiz ouvir (ou quase sempre)... sempre fui contestadora mas, ainda assim, passei pela adolescência e pelo Ensino Médio com a auto estima abalada, incerta.

Senti na pele as angústias, as incertezas, o medo... o bullying através de Melinda, tão bem "biografada" por Laurie Halse Anderson. 
coloquei o "biografada" entre aspas porque, Melinda é um personagem fictício mas, ao mesmo tempo, a intimidade da escrita me fez pensar se eram memórias da autora... se eram observações da autora e por fim, se a autora escrevia o que acontecia dentro de mim.
é um livro divertido e, ao mesmo tempo, muito profundo.

Vamos além da sinopse?

Melinda era "normalzinha"... tanto quanto alguém, na adolescência e no Colegial pode ser "normal" até que durante uma festa, de comemoração de final de semestre, Melinda chama a polícia e "estraga" a festa e é apontada por todos como "dedo-duro" e excluída do convívio. (pareceu-me mais como excomungada do que excluída). A essa altura pensamos: "Por que ela chamou a polícia?" É claro que há um porquê... e é exatamente aí que o título do nosso livro salta aos olhos. Fale! Aparentemente ninguém está preocupado em ouvir os porquês... aparentemente só se preocupa aqui com os fatos em si e, Melinda já foi julgada, condenada e sofre as penas pelo fato em si, sem que ela tenha tido a chance de ser ouvida.

Escrever aqui o que senti ao ler, não vai explicitar as emoções que, de fato, são arrancadas de nós pela autora. Mas esse livro deveria, na minha opinião, ser lido por todo mundo: alunos, professores, pais... há muito de todos nós nesse contexto inevitável que é a vida escolar... nesse micro social que simula perfeitamente o que enfrentaremos em cada esfera cronológica da nossa vida.

Olha que simples esse trecho mas que, dentro do contexto denso do livro, nos diz muito:

"Do que as sementes precisam pra germinar: elas são ineficientes. Se forem plantadas numa profundidade grande demais, não atingirão a temperatura correta na hora certa. Se forem colocadas muito perto da superfície, serão devoradas por aves. Se chover demais, vão se encher de fungos. Se não chover o bastante, secarão. E mesmo se conseguirem germinar, podem ser sufocadas por ervas daninhas, desenraizadas por cachorros, esmagadas por bolas de futebol ou asfixiadas pelos escapamentos de carros.
É impressionantes que sobrevivam."

Esses pensamentos de Melinda, na aula de biologia sobre germinação, mostram um pouco da profundidade da personagem... e de exemplos de micros universos.

Outro trecho que me impressionou:

“Tem um monstro nas minhas entranhas, posso até ouvi-lo arranhando minhas costelas. Mesmo quando descarto a lembrança, ela continua comigo, me ferindo.”

A capa, por mais simples que pareça, foi cuidadosamente pensada e conversa (fala!) diretamente com nossa sensibilidade, no decorrer do livro.

Enfim... se eu ainda não consegui mostrar a você a grandeza desse pequeno livro, não fale nada... deixa o próprio livro FALE!

Beijoconas







13 comentários:

  1. Nossa, tadinha!
    Dá uma dó logo nas primeiras páginas.
    Mas acho (e espero não parecer arrogante ao pensar dessa maneira) que todas as Melindas que existem por ai, quando superam seus traumas, acabam transmitindo valores que os "normais e aceitos" (quase sempre) consideram insignificantes.

    Eu super me identifiquei e acho que seria uma leitura super positiva pra mim.

    Acho que alguém vai me emprestar esse livro semana que vem. Hahahaha.

    Amei a resenha, amiga. Direta e completa.

    Muitos beijos.

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    1. Eu acho que você tem razão nas duas coisas:

      1) Ao se superar, as Melindas ficam mais fortes ao superar os traumas (só me preocupo demais com as que nunca superam e se deixam engolir pelo buraco negro em que foram empurradas na época infanto-juvenil)

      2) Sim... "alguém" vai te emprestar esse livro na semana que vem!
      hsuahsuhaushaushuas

      Beijocas.

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  2. John Elder disse em seu livro que nem todos alcançam seu potencial pois "é muito difícil crescer". E agora Telma, "Aparentemente ninguém está preocupado em ouvir os porquês... " É difícil ouvir, é o que presto atenção sempre.
    Quero muito lê-lo, não agora, mas no futuro, sei que vou amar!

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    1. Eu sempre procuro ouvir os porquês e tenho forçado muita gente a ouvir os meus, Cinthia...
      E, se alguém recusar a ouvir, fecho mais que minha boca... fecho a porta de casa mas... essa sou eu, superando traumas.
      Acho que vc iria gostar desse livro, Oliveira.
      ;)

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  3. Oie Telma

    Cara eu li esse livro agora em Janeiro mas sinceramente amei a ideia da autora mas a escrita dela é muito chata, o dia a dia da Melinda era chato e uma coisa tão grave aconteceu com ela e ela me escreve em um papel ? Perdeu toda a emoção da história acho que a autora poderia ter abordado o tema de forma diferente.

    Beijos

    www.livrosechocolatequente.com.br

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    1. hahahahaha, Andressa... adorei o ponto de vista diferente. :))
      Eu gostei bastantão da escrita da autora... como é do ponto de vista da adolescente (e a gente sabe como adolescente são/somos imprevisíveis e por vezes, simplistas) eu adorei.
      Mas entendo seu ponto de vista.
      Te deixo um beijo gigante.
      Saudades

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  4. Oi, Telma! Tudo beleza?

    Puxa que livro! Que livro!
    Adorei esta resenha e acredito que ainda irei ler, aliás, não é de hoje que venho namorando este livro e acredito que em breve irei ler esta obra literária da Valentina.

    Adorei mesmo a resenha!

    Beijão!
    http://irmaoslivreiros.blogspot.com.br/

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    1. Feliz que tenha gostado, Daniel.
      Vale a pena.
      beijoconas em você!
      :)

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  5. Gosto muito de livros com muitos diálogos interiores, este me pareceu deste tipo.

    Hug lindona

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  6. Olá!
    A resenha parece explicar bem o livro e como ele é escrito, trazendo o leitor para dentro do enredo e fazendo-o se identificar com a personagem principal (como dito na resenha).
    Já li um livro da mesma autora e vi o filme de Fale!, estrelando Kristen Stewart como Melinda.
    Espero um dia escontrer este livro em um sebo ou biblioteca :) A resenha me deixou com mais vontade de lê-lo.
    Abraços.

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:) :( ;) :D :-/ :P :-O X( :7 B-) :-S :(( :)) :| :-B ~X( L-) (:| =D7 @-) :-w 7:P \m/ :-q :-bd

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