Resenha: A Garota que Tinha Medo

Sinopse:

Marina é uma jovem que faz tratamento para a síndrome do pânico. Às voltas com o ingresso na universidade, um novo romance e novas experiências, Marina tem seu primeiro ataque de pânico. Sua vida vira de cabeça para baixo no momento mais inapropriado possível e então psiquiatras e psicólogos entram em cena. Acompanhamos suas idas ao psiquiatra e ao psicólogo, o tratamento farmacológico e a psicoterapia. Ao mesmo tempo, conhecemos detalhes de sua vida amorosa e sexual, universitária e profissional, social e familiar na medida em que elas são marcadas pela síndrome. Um tema atual. Uma excelente obra tanto para conhecimento do quadro clínico como entretenimento, narrada com maestria e de uma sensibilidade notável.

Queridos, esse livro é imperdível!!!!

Oi, surtadinhos gostosos!

É com imenso prazer que trago a resenha deste livro pra vocês!

Parte de vocês sabe do meu envolvimento na área de saúde mental e, apesar das fobias, depressão, ansiedade, compulsividade, dentre outros, estarem se espalhando cada vez mais em decorrência da situação do nosso país (planeta), pouquíssimos livros abordam tão bem o tema.

Vejo, na situação da síndrome de pânico, livros de dois gêneros: ou técnicos e portanto, longe do alcance da massa, ou alguns "gatos pardos" escritos sem profundidade. Breno Melo conseguiu unir ficção literária a termos, fatos, sintomas e possíveis passos para a cura ou controle de diversos desses problemas, nesse livro. Cara... eu fiquei muito impressionada positivamente.

Indico esse livro para TODO MUNDO! 

Claro que indico em especial para aqueles que possuem alguma fobia causada pela ansiedade, para aqueles que têm ou conhecem alguém que tem síndrome de pânico, mas na nossa atualidade, acho imperdoável alguém que não conhece um mínimo necessário para lidar com esse mal invisível que vem nos assolando mais e mais.

Impressionante o número de pessoas que padecem por tantos meses, anos e às vezes, a vida toda, por conta da falta de conhecimento de alguns médicos de Clínica Geral (dentre outros) e por uma população alucinadamente estressada que não tem tempo (ou alertas educacionais) para pesquisar, conhecer e saber  um mínimo dos males físicos que a saúde mental pode causar.

O livro explica o que é desrealização, despersonalização, parestesia (e outros tantos termos psiquiátricos), de maneira descritiva simples e também ensina-nos o que fazer em situações assim. (impressionada!)

Lendo o livro, tive dificuldade em saber se Breno Melo já passou por tudo isso e conta sua própria história, ou esteve bem perto de alguém que sofreu desses males, ou ainda se foi apenas um pesquisador (extremamente bem sucedido) e um ser de sensibilidade aguçada. (ainda vou fazer pra ele essa pergunta!)

A personagem Marina é tão verossímil que eu realmente acho que ela existe! Vejo Marinas o tempo todo e posso dizer que sou uma "Marina", tamanha a identificação com a personagem! Realmente a impressão que me passou, era de alguém, sentada em meu consultório me contando sua história.

A leitura é fácil. Breno Melo sabe escrever! Ele alia uma linguagem simples (coloquial) sem exageros, a descrição de sentimentos, emoções e situações com uma perfeição gramatical, típica de quem tem muita intimidade com a arte de escrever. 

A sinopse deixa clara a história então, não vou ser redundante e recontá-la. Vou ser redundante (apenas para reforçar) ao dizer que é um livro escrito para todas as pessoas que penam por falta de conhecimento sobre distúrbios de ansiedade e suas ramificações.

O livro também apresenta (volto a dizer) soluções, bem plausíveis, para os problemas. Tudo de maneira tão leve que você mal nota que está aprendendo. Da história bem alinhavada você quer mais, enquanto que "de quebra", leva um conhecimento que pode beneficiá-lo e a tantos outros.

Se alguém achar esse livro raso, é só pelo fato de não prestar atenção ao que acontecesse à sua volta... arrisco a dizer que, quem achá-lo raso, sofre do pecado da falta de empatia e tem o egocentrismo como um problema leve (ou não). 

Você pode discordar de mim? Claro que sim!

Mas por favor, leia o livro para ter parâmetros para discordar sem que seja por puro preconceito, tá?

Veja alguns quotes:

- Simplesmente cale e mastigue.

Me calei, mas fui repreendida porque deixei comida no prato. Eu tinha nove anos e faria seis vestibulares. Era demais pra mim. Era demais pra qualquer um. Eu queria gritar e não o fazia.

Talvez de algum modo o fizesse por dentro, sem saber. Mas desde quando? Eu era uma chaleira que apitaria cedo ou tarde. Seria bom que alguém abrandasse o fogo.

Depois da minha experiência com a cocaína no campus Santa Librada, posso afirmar que isto que senti não era delírio ou alucinação. Porque eu não perdia a razão, nem via imagens irreais ou escutava vozes inexistentes. Um surto psicótico é diferente de uma crise de pânico.

(Talvez eu esteja tão divorciada do gênero humano, devido à minha personalidade e à síndrome, que não haja reconciliação. Seja como for, espero ao menos que este livrinho diminua o abismo que há entre as pessoas "sãs" e os panicosos. Escrevo para que gostem de mim.)

Você já viu o clipe da canção Otherside, do Red Hot Chili Peppers? Já fui protagonista desse clipe várias vezes.

Meus colegas da turma tinham medo de mim. Mas eles não sabiam o que era ter medo. Ninguém ali havia passado pelo que passei. Me sentia uma leprosa, mas minha doença não era contagiosa. A verdade é que eu não podia fazer mal a ninguém, senão a mim mesma, além de sofrer com o preconceito de terceiros.

Uma vez, Napoleão se encolhia e tremia de medo durante uma batalha. As explosões, medonhas, o assustavam. Até que alguém notou e disse: "Vejam como ele treme!" Napoleão respondeu: "Se você sentisse ao menos a metade do pavor que sinto, já teria fugido há muito tempo. Mas eu continuo aqui". Não é à toa que ele foi um grande homem, apesar de suas fraquezas e limitações. Quem supera seus medos é mais corajoso que aquele que nunca os teve ou jamais os enfrentou.

Devo dizer mais? Eu tinha partes internas dilatadas por sentimentos que desconhecia. Eu tinha um coração enorme e mãos pequenas, uma boca pequena, um corpo pequeno. Eu estava inapta para esta realidade, que exigia um coração menor, mãos maiores, uma boca maior, um corpo maior. Eu tentava ser perfeita e não me adaptava a uma realidade imperfeita, cheia de buracos e lacunas.

Descobri que aqueles que sofrem, têm motivos que muitas vezes desdenhamos. Até que chega nossa vez de sofrer e os compreendemos perfeitamente. Não desejo a síndrome do pânico para ninguém, mas eu gostaria de compreensão e respeito por parte das pessoas sãs, que, tendo saúde, nem sempre têm compaixão.

(os negritos são grifos meus)

Muitos quotes, né?

Eu juro que tentei colocar o mínimo possível dentre os tantos trechos maravilhosos que encontrei.... jurooooooooooo!

Agora eu lhe pergunto:

Algum desses quotes lhe trouxe um "clique mental", do tipo: ah! eu já senti algo parecido!... ou: "conheço alguém que sente isso"?

Se a resposta foi sim, ainda que minimamente, leia este livro. Sem exageros, você pode ajudar a salvar a vida de alguém, ou à sua própria.

Deixo vocês com o clipe de Otherside, do Red Hot Chili Peppers e também com a letra e tradução.

beijos, seus maluquinhos!

Otherside

How long, how long will I slide

Separate my side, I don't

I don't believe it's bad

Slittin' my throat

It's all I ever

I heard your voice through a photograph

I thought it up it brought up the past

Once you know you can never go back

I've gotta take it on the other side

Centuries are what it meant to me

A cemetery where I marry the sea

Stranger things could never change my mind

I've got to take it on the other side

Take it on the otherside

Take it on

Take it on

How long, how long will I slide

Separate my side, I don't

I don't believe it's bad

Slittin' my throat

It's all I ever

Pour my life into a paper cup

The ashtray's full and I'm spillin' my guts

She wants to know am I still a slut

I've got to take it on the other side

Scarlet starlet and she's in my bed

A candidate for my soul mate bled

Push the trigger and pull the thread

I've got to take it on the otherside

Take it on the other side

Take it on

Take it on

How long, how long will I slide

Separate my side, I don't

I don't believe it's bad

Slittin' my throat

It's all I ever

Turn me on, take me for a hard ride

Burn me out, leave me on the other side

I yell and tell it that

It's not my friend

I tear it down, I tear it down

And then it's born again

How long I don't believe it's bad

Slit my throat

It's all I ever

Outro lado

Por quanto tempo vou deslizar

Separar meu lado eu não

Eu não acredito que seja ruim

Cortar minha garganta

É tudo o que eu sempre

Ouvi sua voz numa fotografia

Eu imaginei que ela trouxesse o passado

Uma vez que você sabe que não há como voltar

Preciso levar para o outro lado

Os séculos são o que devem ser

Um cemitério onde me casei com o mar

Coisas mais estranhas nunca mudariam meu cérebro

Preciso levar para o outro lado

Levar para o outro lado

Levar, levar

Levar, levar

Por quanto tempo vou deslizar

Separar meu lado eu não

Eu não acredito que seja ruim

Cortar minha garganta

É tudo o que eu sempre

Derramei minha vida em um copo de papel

O cinzeiro está cheio e estou falando demais

Ela quer saber se ainda sou um vadio

Preciso levar para o outro lado

Uma estrela escarlate está em minha cama

Uma candidata para minha alma-gêmea que sangrava

Empurre o gatilho e puxe o fio

Preciso levar para o outro lado

Levar para o outro lado

Levar, levar

Levar, levar

Por quanto tempo vou deslizar

Separar meu lado eu não

Eu não acredito que seja ruim

Cortar minha garganta

É tudo o que eu sempre

Me deixe ligado, me leve para dar uma volta

Acabe comigo e me deixe do outro lado

Eu grito e digo que

Ele não é meu amigo

Eu despedaço, eu despedaço

E então nasce de novo

Por quanto tempo, eu não acredito que seja ruim

Corte minha garganta

É tudo o que eu sempre