11 setembro, 2012

Memórias do subsolo – Fiódor Dostoiévski

Clássico Cult - Be Cult!




Escrito na cabeceira de morte de sua primeira mulher, numa situação de aguda necessidade financeira, 'Memórias do subsolo' condensa um dos momentos mais importantes da literatura ocidental, reunindo vários temas que reaparecerão mais tarde nos últimos grandes romances do escritor russo. Aqui ressoa a voz do 'homem do subsolo', o personagem-narrador que, à força de paradoxos, investe ferozmente contra tudo e contra todos- contra a ciência e contra a superstição, contra o progresso e contra o atraso, contra a razão e a desrazão-; mas investe, acima de tudo, contra o solo da própria consciência, criando uma narrativa ímpar, de altíssima voltagem poética, que se afirma e se nega a si mesma sucessivamente. Não é por acaso que muitos acabaram vendo neste livro uma prefiguração das idéias de Freud acerca do inconsciente.



O narrador  e personagem principal, me fizeram lembrar de duas personalidades  que também viveram no subsolo e que até hoje são mal compreendidas e tidas como no mínimo obscuras ou até mesmo nebulosas, falo de Nietzsche e Clarice Lispector, ambos elevaram a literatura e a  filosofia, isso no caso do (Bigodão), à um patamar diferenciado, de forma que se torna impossível ignorá-los, ainda que você possa discordar em conceitos e estilo literário.
Quem está familiarizado com a leitura destes autores, com certeza não sentirá tanta dificuldade de aprofundamento com esta obra de teor filosófico  de Dostoiévski.

É sempre complicado tentar dizer algo  sobre a literatura russa, e ainda mais se tratando desta obra que talvez seja uma das mais complexas em seu enredo, são obras  abissais, onde qualquer tentativa de resenhar sempre será apenas uma tentativa de arranhar a superfície e até mesmo uma espécie de  traição quanto ao o que o autor intentou com aquela escrita.

Para tal tarefa, então pedimos licença ao autor e lançamos nosso olhar através do texto.  Afinal, quem escreve e publica um texto, está sujeito a interpretações de toda a natureza, é o preço que se paga em vida e mesmo  postumamente.

O que mais me impressionou neste livro, foi percebero subsolo, não como um estado de alma ou de espírito, mas como um lugar de onde o narrador construi e descontrui sua realidade.
O narrador escolhe o subsolo como meio de mediar sua  relação com a vida, é a única forma dele existir, mesmo que isso signifique o convívio íntimo com a infelicidade.

Este livro dialoga facilmente com a filosofia nietzschiana.
O próprio Nietzsche, ao lê-lo pela primeira vez, escreveu a um amigo -A voz do sangue (como denominá-lo de outro modo?) fez-se ouvir de imediato e minha alegria não teve limites.

Bem, vamos ver  alguns trechos do livro de onde flui todo o discurso deste homem que tem como lente de observação e existência no mundo -  O subsolo.

Embora tenha afirmado, no início, que a consciência, a meu ver é a maior infelicidade para o homem, sei que ele a ama e não a trocará por nenhuma satisfação . A consciência, por exemplo, está intimamente acima do dois mais dois. Depois do dois mais dois, certamente nada mais restará, não para fazer, mas também para conhecer. Tudo o que será possível, então, será unicamente calar os 5 sentidos e imergir na contemplação

Estaria ele fazendo uma crítica ao padrão de pensamento socrático platônico  -  linear, causal, onde ocorre a negação desta vida em favor da outra, negação do corpo, o surgimento da idéia de identidade, do ser, do que é fixo, e onde não é possível ocorrer transformação, não lugar para o devir (movimento, transformação)?.

O engraçado é que este mesmo padrão de pensamento, é a base de nosso modo de conceber o pensamento ainda hoje, um pensar extremamente excludente, fixo, onde não se com bons olhos o uso da dialética (Seria à um grosso modo, como dizer que o sim e o não pode ocupar uma mesma sentença).

Somos natimortos, não nascemos de pais vivos, e visto nos agrada cada vez mais. Em breve, inventaremos algum modo de nascer de uma idéia

Para elucidar a citação acima, usarei outra citação, esta  da filosófa Viviane Mosé de seu doutorado –    *Nietzsche e a grande política da linguagem

O lugar da linguagem não é o do sentido, mas, ao contrário, o da experimentação do vazio, da ausência

Fomosformatados”  à viver no mundo do pensamento , no mundo das idéias, e desprezamos o corpo e tudo que é sensorial. A linguagem é tida como único meio de experimentação da vida, quando na realidade ela deveria ser apenas uma das várias formas disponíveis, tomemos por exemplo a arte, a música, etc.

É um desafio ousar mudar as lentes pelas quais vislumbramos o nosso mundo, talvez seja a hora de como pessoascivilizadasdesconstruirmos o que nos foi dado no decorrer da história e como dizia o Bigodão, transvalorarmos  e caminharmos numa nova direção que afirma a vida com tudo o que nela.
Pelo visto  Dostoiévski compartilhava o mesmo parecer.

...o que é melhor, uma felicidade barata ou um sofrimento elevado?


  *Nietzsche e a grande política da linguagemViviane Mosé
  Editora Civilização Brasileira
  

4 comentários:

  1. Oi Amanda, com certeza você irá gostar deste livro do Dosto, impossível não se apaixonar pela literatura russa.

    Hug

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  2. Esse livro ainda não li, mas esse escritor é ótimo, tenho o livro "Crimes e Castigo" vol.I e vol.II, e é incrível.

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  3. Que vontade de ler esse livro <3 Adorei a Resenha, parabéns.

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