28 janeiro, 2017

Os Desastres de Sofia




Temos uma escola, um professor lambão e uma garota de 9 anos que o deixa cheio de raiva e desconforto em sua sala de aula.


Sofia imersa em suas pequenas maldades, cochichando e rindo baixinho de seu professor e seu paletó curto e de sua cara abobada, não o respeitando e levando toda a classe junto consigo de forma sutil.


Ela queria desafiar esse professor desajeitado e lambão, todos os dias ela exercitada seu jogo de forças com este coitado, era algo silencioso que acontecia entre eles, difícil até de explicar.


E eu era atraída por ele. Não amor, mas atraída pelo seu silêncio e pela controlada impaciência que ele tinha em nos ensinar e que, ofendida, eu adivinhara



Mas num das aulas ela teve a sua chance perfeita de desagrada- lo. O acanhado professor iniciou sua história para sua pequena classe, a história de um homem que teve um sonho em que encontrava um tesouro. Este homem vende as poucas coisas que possuía e vai em busca deste sonho maluco.


A tarefa da classe seria dar sequencia neste inicio de narrativa contava pelo professor. Sofia como para espirraça-lo, conta uma história que contraria toda a intenção ética da história.
O professor a chama e ela pela primeira vez de frente com seu "inimigo", o sangue lhe sobe ao rosto suado de menina travessa e pensa que agora ele irá finalmente se vingar de todas as suas manobras de maldade.


Só Deus perdoaria o que eu era porque só Ele sabia do que me fizera e para o quê. Eu me deixava, pois, ser matéria d’Ele. Ser matéria de Deus era a minha única bondade


Neste diálogo rápido entre eles , algo se perde, Sofia criança não encontra mais salvação para si e para ele (Leiam para entenderem o conto). Não há mais motivos para cada dia ela criar sua maldadezinha. O professor acredita que ela seja um outro tipo de menina, segundo ele engraçada, doidinha rs.



A verdade é que não me sobrava tempo para estudar. As alegrias me ocupavam, ficar atenta me tomava dias e dias; havia os livros de história que eu lia roendo de paixão as unhas até o sabugo, nos meus primeiros êxtases de tristeza, refinamento que eu já descobrira...


Ao contrário do que se pensa, as crianças não estão imunes à maldade, elas sabem quando exerce-lá. Ainda que não tenham uma visão madura das coisas por serem ainda crianças.


...tomava intuitivo cuidado com o que eu era, já que eu não sabia o que era, e com vaidade cultivava a integridade da ignorância


Sofia estava em crescimento e dentro dela uma avalanche de coisas acontecia, nem mesmo ela dava conta dessa ebulição. E sua vida escolar era um jogo com o pobre professor inocente e bondoso. 


Leiam as impressões da Silvia sobre este conto. 




*Este conto faz parte do livro - A Legião Estrangeira







Clarice Lispector - Todos os Contos
       Editora Rocco - Capa Dura - 656 Pgs
        Organizado por Benjamin Moser

                   
                    Marcia Cogitare






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