Um
homem contemplando os passantes domingueiros chegarem à igreja e ele
imóvel , evitando olhar naquele saco pesado em sua mão.
Ele
era professor de matemática e se mudou com sua família para esta
nova cidade.
Existe
um pesar em sua alma, algo que o prende ao lugar de
onde saiu. Ele tentou evitar os pensamentos, mas não teve sucesso.
“Enquanto eu te fazia à minha imagem, tu me fazias à tua”, pensou então com auxílio da saudade. “Dei-te o nome de José para te dar um nome que te servisse ao mesmo tempo de alma. E tu – como saber jamais que nome me deste? Quanto me amaste mais do que te amei”, refletiu curioso
No
saco, um cachorro morto e desconhecido que ele encontrou jogado na esquina.
E este fato nos revelará sua culpa. A culpa de ter abandonado seu
cão José. Justificando-se que viria para a cidade e que seu cachorro
não caberia em seus planos. Logo José com seu olhar canino,
atravessava a alma do professor e exigia que ele se tornasse um homem.
As relações entre um cachorro e seu dono ultrapassam as explicações humanas de racionalidade. Quem já teve esta experiência, sabe que é assim, algo abissal acontece entre essas duas almas que se amam e se entendem.
As relações entre um cachorro e seu dono ultrapassam as explicações humanas de racionalidade. Quem já teve esta experiência, sabe que é assim, algo abissal acontece entre essas duas almas que se amam e se entendem.
Não havia nenhuma confusão na cabeça do homem. Ele se entendia a si próprio com frieza, sem nenhum fio solto
O
professor enfim resolve enterrar o cão morto e se demora pensando
que seu cachorro (José na rua distante de sua cidade) gostaria de ser enterrado em baixo de uma árvore.
Mas ele muda de ideia e cava uma cova rasa no meio daquele terreno
descampado.
E faz-se silêncio com seu rosto e cílios cheios de terra e sua culpa transferida como solidariedade ao cão morto.
E faz-se silêncio com seu rosto e cílios cheios de terra e sua culpa transferida como solidariedade ao cão morto.
Gosto
muito do título deste conto, mostra muito a visão da autora sobre
o ato desumano do abandono canino. Ela julgava ser um crime, mesmo
em seu tempo não tendo lei nenhuma de proteção para com os animais.
Hoje estamos melhores neste quesito, mas ainda o abandono e os maus tratos, ainda são gigantes em nosso país.
Hoje estamos melhores neste quesito, mas ainda o abandono e os maus tratos, ainda são gigantes em nosso país.
Clarice
tinha seu cachorro Ulisses, que amava comer as bitucas de cigarro no
cinzeiro sempre cheio de seu apartamento. Ela sabia como era essa relação.
Leiam a resenha da Silvia sobre este conto só Clicar Aqui
Leiam a resenha da Silvia sobre este conto só Clicar Aqui
Aproveitando
o texto, gostaria de dizer aos que me leem, adotem um cachorro,
não comprem.
Para
quem é de São Paulo, indico a ONG Cão Sem Dono, eles fazem um
trabalho incrível.
Visitem o Facebook do Cão sem Dono
https://www.facebook.com/caosemdono/
Clarice Lispector - Todos os Contos
Editora Rocco - Capa Dura - 656 Pgs
Organizado por Benjamin Moser
Marcia Cogitare
Puxa, ainda bem que naquele tempo já existia pessoas com essa sensibilidade.
ResponderExcluirEu amo os animais, não os trataria mal por nada. Eles são tão inocentes e amam a gente com tanta facilidade que devemos agradecer por isso, já que os humanos são bem difíceis.
Lavinia, não confio em quem maltrata bicho. Acredito que para maltratar um ser humano é um pulo.
ResponderExcluirE os humanos são difíceis como você bem disse.
Hug
Eu não confio em pessoas que maltratam animais, seja eles quais forem: cão, gato, coelho, cavalo, etc... É pelo seu modo de tratar um animal que vemos como uma pessoa é. Se consegue bater, chutar e até mesmo enforcar, como já vi fotos na net, para e pense: o que impede essa pessoa de fazer o mesmo com um ser humano? Nada impede, pois quando se é mau, é mau de natureza.
ResponderExcluirMaristela, concordo plenamente com o que você disse. A maldade está na dentro da pessoa, então não é difícil os maus tratos se estender em as pessoas, é uma possibilidade.
ExcluirHug
Ah Márcia,
ResponderExcluirQuando vim ler sobre esse conto fiquei me perguntando o porquê dá foto do cachorro, é óbvio que logo descobri e fiquei tão triste quanto o olhar desse cãozinho...
Lá no interior o ato de abandonar um cão nos sítios próximos a cidade é muito comum, e dá muito aperto no coração quando vemos um abandonado.
Sua dica final tbm é muito maneira, espero que as pessoas pensem mais na hora de comprar um bichinho.. eu já adotei uma gatinha, não era um cão mas é animalzinho do mesmo jeito.. e a amo muito *-*
Daiani , vc é uma lindeza de pessoa, claro que gatinho também vale rs.
ExcluirE que dó dos bichos que são abandonados nos sítios. Na cidade não tem sido diferente.
Algumas pessoas são insensíveis a vida dos bichinhos.
Hug