Os Malogrados

A história tem como protagonista a jovem Marta; moça recatada que presenciou e viveu as turbulências e transformações que ocorreram em meados do século XVIII. Ela era filha de ex-barões, que perderam o condecorado título em virtude de serem acusados de conspiradores, embora os crimes nunca foram comprovados. Apaixonada por Lúcio, o príncipe do reino, passou a travar encontros amorosos com ele sem a permissão do rei e da rainha. Se acaso os soberanos soubessem que eles ainda se encontravam, mandariam matar tanto ela quanto os pais dela.A obra ainda tem como pano de fundo a Inquisição, a desordem política do país e a briga feroz e incessante entre ciência e religião. E por isso Marta criou forças não só para lutar por alguém que ama, mas também criar vínculos para a melhora das condições de vida dos mais próximos.
Com uma gama extensa de personagens, o livro retrata vários fatos de época nos quais Marta é a principal mentora. As dificuldades encontradas entre escravos, mulheres e seguidores de outras doutrinas religiosas é bem relevante. Em suma, a obra descreve a incessante busca de ideais dos personagens, mais precisamente de Marta e do príncipe Lúcio, o homem que ela sempre declarou amar.

 Livro único

M. F. SANTOS

260 páginas

APED

Esse livro faz parte de um Livro Viajante que participei no Skoob, e me surpreendi muito com ele, por isso resolvi vir falar dele para vocês, ainda mais por ser escrito por um autor brasileiro.

Temas como a inquisição e enredos desenvolvidos no século XVIII para trás, sempre me atraem. Simplesmente amo a riqueza do que o passado nos deixou, sua história. E, por mais que esse livro seja uma ficção o autor conseguiu retratar com muito êxito o período da submissão da mulher, inquisição e a escravidão. Algo que achei lindo!

O livro aborda muitos assuntos polêmicos para a época, mostra pessoas que não só lutaram para que a liberdade de muitos fosse conquistada, mas viveram sem macular o que acreditavam ao enfrentar todos contra as atitudes em desfavor a vida humana. A parte das condenações e perseguições pelo inquisidor para com os cristãos-novos para mim foi tirada de alguma história real e adaptada, de tão perfeitas que ficaram. Quem for ler o livro e não sabe como agia uma família judaizante na época, vão poder montar um quadro perfeito em sua mente: de suas lutas para se permanecerem na religião até suas fugas rumo ao nada sem nada, pois deixavam todos seus bens e até roupas.

É um romance, mas não pensem ser um romance meloso, e esperem por algo diferente, não é algo previsível como todo romance de época, isso me conquistou por completo. O enfoque do livro foi retratar a época, a inquisição, como era realizado alguns métodos de tortura e até mesmo as execuções, bem fidedignas com o que ocorria realmente. A construção desse período não parou ai, a elaboração dessa época no texto se expande e mostra com perfeição a transição das mulheres submissas (ou paradas no tempo) em Senhorinhas que detinham poder não apenas por suas posses, mas suas atitudes liberais para a época, digo liberais, aquelas que começaram a cuidar de seu lar sem um homem.

Marta é filha de um barão que perdeu seu título por ter sido acusado de roubar o que pertencia ao rei Guilherme. A ganância de sempre ter mais trouxe a ruína aos seus pais e como era apaixonada pelo príncipe Lúcio, o rei e a rainha não aceitavam a união dos dois, ou melhor, se quer aceitavam que se aproximassem um do outro.

De encontros furtivos a suas obrigações com o reino, Lúcio tentava conciliar seu romance com sua vida no palácio, mas logo as coisas fogem de seu controle devido a Peste que assola seu reino, depois o inquisidor aparece mandando e desmandando, e para piorar o quadro, seu pai parte para França em uma viagem, sendo ele o único que fica para lidar com tudo sozinho.

Não tão só. Chega ao reino pessoas com pensamentos liberais para a época que o ajudam bastante. Mas, infelizmente o amor deve ser nutrido, regado dia a dia, e ele vê o amor de Marta começar a ser substituído devido à presença de Dona Constantina e a de seu neto Abelardo, um médico cientista que ama ajudar as pessoas.

Em meio a execuções, prisões de judaizantes – cristãos-novos – fugas de negros para os quilombos em busca de sua liberdade, uma guerra iminente contra a França e roubos contra o reino, Lúcio vai ter de provar que consegue conciliar tudo e lutar pelo amor de Marta.

– Eu preconizo a liberdade do desenvolvimento intelectual das pessoas. É óbvio que a Igreja se incomoda com isso; quanto mais cultas e inteligentes as pessoas se tornam, mais poderão contestá-la. Ela quer continuar forte, usando a fé dos fiéis para proveito próprio.

De início não simpatizei nem um pouco por Abelardo, mas ele mostrou ser tão íntegro e suas atitudes demonstraram tanto isso que me cativou muito, de não simpatia, passei a gostar dele como melhor personagem. Também gostei de Dona Constantina com seu jeito especial de tratar seus escravos como gente, pois enquanto todos ao seu redor pensavam que eram destituídos de alma e serem piores que animais de cargas, ela os tratava como iguais. Muito lindo! 

Um livro que me surpreendeu! O autor de início me fez pensar que seria uma leitura bem previsível pela forma de escrever jogando tudo ao leitor, não poupando desvendar os mistérios - algo bem incomum e que me assustou de início -, mas funcionou, ele deixou as surpresas mais para frente.

Para aqueles que amam um romance com mulheres destemidas prontas para enfrentar o que vier será uma leitura magnífica, pois Marta, Isabel, D. Constantina são isso e muito mais. Um ótimo livro!

Esse foi o maior paradigma que vi em toda a minha vida. Eu que sou médico e cientista, que acho que tudo vi e ouvi, tive a prova de que a cada dia podemos nos surpreender com as pessoas. 

Cinthia