Nas montanhas de Guerrero, México, como em outros recantos esquecidos pelos governos, não há homens entre os moradores. Quando adultos, eles partem para a cidade grande ou atravessam ilegalmente fronteiras, em busca do sonho americano. Lá, as mulheres devem se mascarar, se esconder ou até mesmo se mutilar, para ficarem menos femininas e passarem despercebidas aos olhos da elite do tráfico. À sombra da guerra travada diariamente, as jovens deixam de frequentar a escola, cortam seus cabelos e se escondem em buracos para salvar a própria vida.
Editora
Rocco
Pág
240
Após
ler este livro, eu pensei que em pleno 2015, ainda é muito difícil
ser mulher e em alguns países, isso é uma sentença de morte ou de
sobrevida.
Em reze pelas
mulheres roubadas, temos um livro de ficção, mas que emula a cruel
realidade mexicana de mulheres vivendo sob o peso do medo de serem
sequestradas e vendidas para o narcotráfico como escravas sexuais.
Ladydi garota de 11 anos que mora com a mãe numa montanha na cidade de
Guerrero (México), não há homens na montanha, todos foram tentar a
vida nos EUA e nunca mais voltaram. Este personagem nos mostrará
todos os vários nucleos dessa história, a acompanharemos até seus 17 anos de idade.
Numa narrativa
frenética, embora cheia de um humor negro, que acaba por tornar o
alívio cômico do livro em meio a tanta desgraceira, talvez por isso
o livro flua de forma muito rápida durante a sua leitura.
Ladydi, que ganhou
este nome, não como homenagem a princesa, mas como forma de vingança
de sua mãe, por ter sido traída por seu pai metido a galã.
Não quero entrar
muito na história e nos personagens, porque este livro tem como um
dos pontos fortes o desenvolvimento de um personagem que a todo
instante rouba a cena, a mãe de Ladydi.
Gosto da amargura
dela e suas falas grotescas, pense numa pessoa insana e cômica, ela
é tudo isso, e com força,rs.
Gosto como a
narrativa é construída sem julgamentos por parte da autora, sem
falsas moralidades ou carolices.
Podemos ver as
relações humanas de forma muito complexas, como de fato elas são.
As pessoas são
apresentadas de forma dicotômicas (sendo más e boas, dependendo da
situação).
A protagonista
(Ladydi) é praticamente neutra, apenas nos leva pela mão e nos
mostra a realidade dessas mulheres mexicanas e a sua própria, que
são obrigadas desde muito cedo, se tornarem feias e masculinizadas,
para não serem sequestradas pelo narcotráfico.
Se encondendo em
buracos nas plantações, quando avistam os carros SUVs dos
traficantes se aproximando, cheio de homens armados, sabendo que
aquele momento, pode ser seu fim.
Além da polícia e
política corrupta, podemos ter um vislumbre das cadeias femininas,
abarrotadas de mulheres, onde nunca chegarão a vislumbrarem qualquer
forma infíma de justiça (México se parece muito com nosso
Brasil).
Interessante pensar
que este livro pode ser abordado de “duas” formas, a psicológica
e a antropológica.
A autora nos dá um
raio x do ambiente e condição de vida dessas mulheres.
Apenas uma coisa me
incomodou neste livro, a passagem de tempo não foi trabalhada de
forma eficiente, causando desconforto em minha leitura, mas tenho uma
tese sobre isso, talvez a autora quisesse nos apresentar um mundo
uno, então a passagem do tempo fez muito bem seu papel, se o caso
foi este.
Marquei muitas
frases em meu livro durante a leitura, irei compartilhar com vocês
as mais interessantes
“Na televisão estavam falando sobre uma revista que está publicando um artigo sobre o que é se mulher!E daí?Eu diria a verdade a eles.Qual é a verdade, mamãe?O mundo de uma mulher está dentro de suas calças”
“A única coisa que meu pai trouxe para ela quando voltou dos EUA foi uma pequena antena parabólica. Minha mãe era viciada em documentários históricos e nos programas da Oprah. Na minha casa, havia um altar para a Oprah ao lado do que ela mantinha para a Virgem de Guadalupe”
“No hotel. Ela me mandou dizer para você que o amor não é um sentimento. É um sacrifício”
“O pai nunca a abraçou, mas, quando ela o matou, quando ele estava morrendo, se agarrou nela. Ela diz que teve que matá-lo para ganhar um abraço dele.”
Este livro nos mostra, que nós mulheres temos muito pelo o que lutar, num mundo cheio de todo tipo de desigualdades e preconceitos, onde nós somos vitimadas à todo instante.
Este livro foi o livro escolhido pelo projeto #leiamulheres, que acontecerá no dia 22 de Abril as 19:30, na Livraria Blooks no Shop. Frei Caneca em SP.
Mediação das queridas Juliana Leuenroth (Blog e canal O Espanador) e Michelle Henriques (Blog In a handful of dust e do Projeto Bastardas)
Estarei por lá, e convido aos leitores do blog e que moram em Sampa me acompanhem, eu adorarei conhecer cada um de vocês, será divertido.
Boa resenha para um livro bom
ResponderExcluirGilberto, simples e direito, assim como eu,rs
ExcluirHug queridão
Parece ser uma leitura bem intensa.
ResponderExcluirInfelizmente em muitos lugares as mulheres ainda são tratadas como meros objetos.
E o mundo finge que não vê. É uma realidade devastadora.
Khrys
ExcluirÉ simplesmente um absurdo a condição das mulheres no México e em tantos países mundo afora, ainda falta muito o que se fazer nesta área.
Espero que curta a indicação.
Hug
O México, mais precisamente Juarez, já tinha me deixado perplexo com o filme Bordertown (com a Jennifer Lopez e Antonio Banderas). Não é fácil ser mulher em alguns lugares deste país (em outros também, claro).
ResponderExcluirÉ uma realidade muito chocante!
Tão perto e tão longe da gente.
Eu leria "Reze pelas mulheres roubadas" só pra conhecer um pouco mais sobre esse universo assustador. Vale muito a pena!
Adorei a resenha, Marcinha.
Beijão!!
Luan
ExcluirMe parece que ser mulher, em alguns países é um grande problema.
O ser humano parece que não evolui, ou evolui muito lentamente em algumas questões. Este livro me entristeceu muito, porque no Brasil ,também temos nossas mazelas sociais, e as mulheres são as vitimas favoritas deste sistema horrendo.
Leia e me diga o que achou
Hug
Este livro tem cara de ser forte e conter muitas emoções. Não o conhecia ainda e fiquei intrigada com a leitura da resenha. Muita coisa que comentou aqui me agradaram e os trechos do livro também. Vou tentar ler. Quero sentir e saber mais dessas mulheres que são tão abusadas,sofridas e ao mesmo tempo fortes. Pois pra passarem por tudo isso tem que ter algo que as façam assim. Fortes.
ResponderExcluirBeth
ExcluirDe fato é uma narrativa é frenética.
Mulheres onde quer que estejam, sempre se fazem fortes, parece que é meio que um atributo feminino.
E leia e me diga se curtiu
Hug :D
Caramba, Marcinha!
ResponderExcluirCurti muito mais do que pensei, num primeiro momento quando você me disse que estava lendo. estou fugindo (nesses últimos doas) da crueldade real e me refugindo na fictícia (por ser mais confortável). Como estou extremamente ansiosa, a ficção me acalma...rs, mas lendo sua resenha todos os botões da curiosidade ficaram ligados! :D
Um livro assim, com "alívio cômico", dado pelo humor negro, fora os dois temas de fundo (antropologia e psicologia) me interessam.
Pretendo lê-lo na minha fase "realidade, nua e crua".
Ótima resenha, Marcinha (como de costume, né?)
=D7
Telma, acredito que você irá curtir este livro, mesmo o assunto sendo muito sério e urgente, a narrativa não nos deixa ser esmagada pelo peso de tais realidades.
ExcluirHug :D
A realidade dessas mulheres é bem cruel mesmo, creio que a leitura seja pesada mas válida, por coincidência a uns dias atrás vi um vídeo sobre tudo que essas pessoas fazem pra atravessar a fronteira em busca de uma vida melhor e que na maioria das vezes não da certo
ResponderExcluirA realidade dessas mulheres é bem cruel mesmo, creio que a leitura seja pesada mas válida, por coincidência a uns dias atrás vi um vídeo sobre tudo que essas pessoas fazem pra atravessar a fronteira em busca de uma vida melhor e que na maioria das vezes não da certo
ResponderExcluirPepi
ExcluirPor incrível que pareça, a leitura não pesa, mas de fato é uma realidade muito cruel.
Leia e me diga o que achou.
Hug
So rezando mesmo pra essas mulheres! Que lugar e esse, e muita crueldade da parte dos homens. E ninguem faz nada para ajuda-las?
ResponderExcluirKat, é triste, mas os homens que aprecem no enredo, não se importam com esta situação.
ExcluirPolícia e política idem.
Espero que vc curta a leitura.
Hug :D
Márcia1
ResponderExcluirNos proporcionando sempre leituras inspirativas e questionadoras, adoro!
Sincronia ou não, agora no jantar comentava com maridão justamente sobre como em pleno século XXI ainda vemos os absurdos e atrocidades que acontecem com as mulheres e não apenas aqui no nordeste, no Brasil, mas no mundo inteiro, é revoltante.
Os políticos e policiais se acham superiores e abusam de seus poderes, revoltante!
O livro é choque de realidade e muito bom mesmo.
Boa Semana!
“Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade.” (Carlos Drummond de Andrade)
Cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
Rudy
ExcluirSempre bom levantarmos assuntos pertinentes ao nosso tempo.
E as mulheres ainda são vitimas de todo tipo de violência, realmente triste
Obrigada por sempre nos acompanhar por aqui e muito bacana mesmo.
Hug :D
Tem que ser muito forte pra ler esse livro também?! É ruim pensar na nossa vida que reclamamos por tão pouco, com a vida dessas mulheres. Quero muito ler o livro. Quer dizer, quase todos os livros que voc~e resenha me interessam é impressionante isso.
ResponderExcluirLiih, fico muito feliz de vc gostar das indicações e resenhas.
ExcluirEste livro mesmo tratando um assunto tão sério, ele consegue trazer uma leveza pro assunto, eu particularmente não o achei pesado.
Pode ler tranquilamente.
Hug ;)
:-o Nossa que trechos hein gente, eu ainda não tinha ouvido falar do livro, mas acho que seria muito, mas muito interessante mesmo ler, gostei muito da resenha, e espero ter a oportunidade de ler o livro.
ResponderExcluirBeijos *-*
Camila, esse livro é um soco na cara, nos tira da casinha pra ver outras realidades.
ExcluirLeia , vale muito a pena.
Hug :D
Reze pelas mulheres roubadas mexeu comigo desde que vi o lançamento pela Rocco, essa capa é perfeita, retrata exatamente o que o livro quer passar, a partir daí quis saber mais sobre a história, mas não encontrava resenhas e posso afirmar que a sua me convenceu de vez a ler o livro de Jennifer Clement.
ResponderExcluirA autora não poupou nada, contou a realidade de forma nua e crua, retratando sem medo o que muitas mulheres passam no México e em outras partes do mundo, o medo, incerteza do que virá é algo realmente tocante.
Mesmo sendo um tema forte e importante de ser debatido, ela conseguiu não deixar tão tenso graças a construção das personagens e os momentos em que se vale de humor negro, um livro que nos fala a verdade e nos alerta que precisamos fazer algo, tentar mudar e salvar as mulheres que podem sofrer isso no futuro.
David, este livro deveria ser lido por todo mundo.
ExcluirÉ muito doido pensar nesta realidade mexicana, mas também temos uma realidade brasileira se muito se parece com essa, de prostituição e violência contra a mulher, algo que ainda é comum, infelizmente.
Também concordo contigo, a capa é incrível.
Hug :D
Exatamente Marcia, mesmo com a mulher conquistando cada vez mais seu lugar que é direito, o respeito ainda é algo que não ocorre, visto o crescente número de casos de violência doméstica e crimes em geral contra as mulheres, o Brasil nesse quesito se compara igualmente ao México. E o pior é ver os criminosos que praticam esse tipo de ação sendo absolvidos como aconteceu com os que quase mataram Malala, apenas 2 ficaram presos, os outros foram soltos aos poucos para não chamar a atenção, lamentável que isso ocorra nos dias de hoje.
Excluiro que eu tenho a dizer... diante dessa resenha tão intensa não posso deixar de lembrar de um outro livro: Malala, que retrata o contexto do direito das mulheres a terem educação.
ResponderExcluirSabrina bem lembrado, Malala é um livro igualmente interessante.
ExcluirHug Lindona :D
Resenha muita booa , a minha opinião que este livro retrata muito bem algumas realidades de mulheres que sofrem em paises preconceituosos que deviam se conscientizar que nós mulheres fazemos uma contribuição muito grande a nossa sociedade .Sociedade essa que não tem direito de agir com atitudes como essa pois ela é podre e corrupta !
ResponderExcluirIsabella este livro é um soco no baço, te faz acordar para sua própria realidade.
ExcluirE vc tem toda a razão, as mulheres são primordiais para nossa sociedade.
Hug :D