Minha vida com a
Síndrome de Asperger
Olhe Nos Meus Olhos - Olhe nos meus olhos é a tocante e bem-humorada narrativa de alguém que cresceu com a Síndrome de Asperger numa época em que esse diagnóstico não existia. Desde criança, John Robison tinha dificuldades em relacionar-se com outras pessoas. Na adolescência, os problemas se agravaram e apenas aos 40 anos Robison foi diagnosticado, por um atento terapeuta: era portador de uma forma de autismo chamada síndrome de Asperger. Essa súbita compreensão transformou a maneira como Robison se via - e como via o mundo.
por Cinthia
John Elder Robison
256 páginas
Larousse
Não sei se todos sabem, dia 02 de Abril é
o dia Mundial para a Conscientização sobre o Autismo, por isso trago para vocês
esse livro sobre um Autista leve – Asperger – que mostra como é ser um autista em
um mundo neurotípico.
Pensa em uma pessoa que luta contra seus
próprios limites, superando-os sem saber o que tem, mas vive de forma a ter o
melhor da vida apesar da discriminação e desprezo de todos ao redor: esse é
John. Pode parecer um livro triste, mas não é. O que me deixou intrigada foi a
forma de ele enfrentar tudo sem saber o que tinha (só descobriu ser autista
quando adulto) e dar uma grande lição de vida em todos aqueles que pensam ter
problemas sem soluções.
Incentivado pelo irmão mais novo por
perceber que há pouco material sobre o assunto, John Elder escreve sua
biografia sobre a sua vida com a Síndrome de Asperger. Para aqueles que não
sabem o que é, o portador de Asperger está enquadrado hoje dentro do espectro
do autismo. O Asperger não possui atraso cognitivo como ocorre em alguns casos
de autismo mais grave, e por ficarem aficionados em um mesmo assunto durante um
grande período ou a vida toda, acabam ficando peritos na área de interesse, por
isso há o estigma de pequenos gênios, ou nerds. Mas, a genialidade não é
requisito para o diagnóstico. Não é necessário ser superdotado ou todo Asperger
ser um superdotado. As limitações de um Asperger está na interação social, estereotipias,
fixação por objetos ou temas específicos e outros.
John nos mostra como foi seu
desenvolvimento desde criança até a idade de 50 anos. Como fez para superar
suas limitações e como todos os médicos, pelos quais passou, erraram o
diagnóstico dele, acarretando a ele diversos problemas. Todos o tratavam como o
garoto problemático que não queria nada com a vida, o viam como um
esquizofrênico ou um sociopata, mas era dotado de uma inteligência e
criatividade fora do comum.
Uma criança que os policiais queriam prender,
seus pais tinham certeza que nada viria de bom dele, a escola queria que ele
sumisse, e seus colegas criticavam, caçoavam dele. A discriminação gerou baixa
estima fazendo-o não concluir o ensino médio, nem ir para a faculdade.
E apesar das circunstâncias nada
favoráveis, nem pense que ele foi como a maioria pensa que um autista é: uma pessoa quieta, aquém de tudo, em seu próprio mundo. Ri muito de suas travessuras e
artimanhas bem elaboradas. Pensa em uma mente brilhante. Agora pense no dono
dessa mente trabalhando para infernizar toda uma cidade. Só não gostaria de ser
uma das pessoas em que as peças foram feitas. Leiam o livro já com a mente bem aberta,
esperando ver um autista bem ativo e agitado que chega a cortar toda a energia
elétrica da cidade e consegue desenvolver efeitos visuais que nenhum outro
engenheiro jamais conseguiu. Conhecendo John, vão ter outra visão de como é um
Autista de grau leve e como pensam.
Mas eu ri por último, e ri melhor.
“Podem descarregar na calçada e colocar a conta na caixa de correio. Os pedreiros vão colocar tudo pra dentro amanhã.”Foram depositadas mais de 45 toneladas de cascalho na entrada de carro da casa do professor e, o melhor de tudo, a conta estava no nome dele.
A narrativa é em primeira pessoa, a escrita
é de fácil leitura e muito envolvente. Não é um livro científico, mas ele
aborda alguns conceitos para explicar o que é a Síndrome e indica alguns livros
científicos.
John passa por situações sem ninguém
para apoiá-lo, e explica como a Síndrome o protegeu, manteve sua lucidez do
desajuste familiar e de propostas que só atrapalhariam a vida dele mais ainda.
Essa parte da razão sobre a emoção em que a Síndrome intensifica na pessoa o
livrou disso. O que me fez ficar aliviada e pensar que nem tudo é ruim de todo.
O pai dele era um homem que não dava muita atenção para a família. A mãe
manifesta uma doença mental, o que complica mais as coisas. Augusten, seu irmão
mais novo, infelizmente não consegue manter uma interação com ele também.
Há os colegas de escola, e a Mary
(Ursinho), uma garotinha que o acompanha desde a pré-escola e também possui
Asperger. Algo que
poucos Aspergers conseguem ter é manter um relacionamento amoroso, mas John
conseguiu ter e manter uma família.
Em determinado momento ele não vê
alternativa, a não ser sair de casa, e acaba se tornando engenheiro do grupo
musical Kiss, sua vida profissional se deslancha e fica surpreso com a
ascensão, o declínio e ascensão de novo no empreendimento correto.
Enquanto escrevia o livro, John –
através da reflexão – pode perceber coisas que não via antes, pode encontrar
seus laços familiares e compreender o significado que cada pessoa teve em sua
vida desde a infância, e descobriu que a mudança de atitude traz mudanças nas
pessoas, como também viu a necessidade em ser humilde e aprendeu a perdoar.
Esse livro é um tesouro deixado para
aqueles que possuem Asperger. Pessoas não acometidas pela Síndrome vão ter uma
nova visão do que é ter autismo leve, desmistificar o conceito que todo autista
é desprovido de reações, emoções e que nunca conseguem ter uma vida normal, vão
ver questões comuns que ocorre no dia a dia deles, e vão entender o motivo da
forma diferente de serem. Já os portadores da Síndrome, vão conseguir se
identificar muito, e muitas vezes poder ter um entendimento melhor de si
próprio, já que a maturidade do John passa a ser algo significativo e um
exemplo de superação em vários assuntos que muitos dos Aspergers possuem
dificuldade.
Lindo! Superação de vida e exemplo para todos! Ótimo para autistas, familiares,
professores, e a todos que interessam pelo assunto.
A Síndrome de Asperger não é tão prejudicial assim. Pode até conceder alguns dons raros. Alguns Aspergers têm extraordinária aptidão para compreender problemas complexos e podem se tornar brilhantes engenheiros ou cientistas. Outros parecem possuir dons musicais sobrenaturais. Mas não se deixe enganar – muitas crianças Asperger não se tornam grandes professores ou cientistas excepcionais. Crescer é muito difícil.
Temple Grandin - Autista de Alto Funcionamento - revolucionou as práticas para o tratamento racional de
animais vivos em fazendas e abatedouros, é Ph.D. em Zootecnia e bacharel em Psicologia.
Cinthia, que livro fantástico, tô imaginando que esse cara passou sem saber que tinha asperger.
ResponderExcluirAcredito que o mais complicado são os relacionamentos, as pessoas tendem a ignorar pessoas com qualquer tipo de autismo ou mesmo diferença, qualquer que seja ela.
É sempre bom termos canais de informação sobre o tema, e a literatura faz muito bem este papel.
Mais uma resenha interessante e muito boa.
Hug
Muita coisa realmente Marcia. Só não sei se teria resolvido muito devido a família dele ser desestruturada.
ExcluirPior que as pessoas tendem ignorar qualquer um que não esteja dentro do biotipo que ela tem em mente de ser uma pessoa desejável. Mas, sempre há aquelas pessoas que não são assim, e o bom é olhar para essas. Por isso a importância da conscientização sobre o autismo.
Oi, tudo bom?
ResponderExcluirAdorei você ter postado sobre esse livro, pois eu ainda não conhecia ele, acho super importante que tenhamos conhecimento sobre a doença, confesso que não sai praticamente nada sobre ela, mas são livros assim que nos ajudam a ter conhecimento, eu tenho A Passarinha, mas infelizmente ainda não comecei a ler, creio que a colocarei como minha próxima leitura, amei conhecer o livro e espero ter a oportunidade de ler ele.
Beijos *-*
Acredito que você vai amar a Caitlin, ela é ótima e dá uma boa lição devido sua forma de ver o mundo completamente diferente dos outros ao redor e de buscar o desfecho tão desejado para a situação. Espero que goste tanto quanto eu, pois amei!
ExcluirCinthia, minha queridona!
ResponderExcluirSua resenha está maravilhosa.
E vou parabenizar você, por trazer um tema tão importante, justamente na véspera do Dia Mundial. A minha maneira de divulgar a síndrome, será compartilhando sua resenha e incitando os amigos a ler.
Conheço um pouco sobre o autismo em seus diferentes graus e sei da importância de outras pessoas conhecerem pra poder, quem sabe, diagnosticar precocemente, lidar e respeitar os portadores.
Parabéns, mais uma vez, pela belíssima resenha.
Este livro vou ler num futuro que eu imagino ser próximo (ao menos é o que quero!) :D
beijos, minha queridona
O diagnostico precoce é algo importante. E muitos pais possuem filhos que possuem um comportamento diferente e não entendem o que há de errado, e muitas vezes pode ser autismo, e não se desenvolvem como deve por não serem estimulados no devido momento, quanto mais cedo melhor.
ExcluirObrigada Telma. E, leia, você vai gostar bastante, e há outras pessoas com transtornos nele, você vai gostar.
Este livro parece ser emoção pura. Não deve ter sido nada fácil para os pais desse menino naquela época. Ninguém sabia o que era e como diagnosticar. Fiquei apaixonada pelos seus comentários sobre o personagem. Deve ter sido uma criança muito especial.Com certeza vou adorar ler e conhecer mais um pouco de sua vida.
ResponderExcluirBeijos.
Beth, John não foi uma criança fácil, mas a família dele era bem excêntrica também, então tudo ficava pior. Mas, as travessuras dele, algumas foram graves.
ExcluirUm tema pouco falado e muito vivenciado. Gostei muito da dica.
ResponderExcluirMuitas vezes estamos convivendo com uma pessoa com este mesmo problema sem saber. As pessoas acreditam que o autista vive no mundo da lua mas existem vários tipos da doença.
Adorei a emoção que passou em suas palavras ao descrever a história. E me fez querer conhecer esta linda história de vida.
Ocorre, pois muitos Asperger que conheço não saem falando que são, a discriminação é grande e as pessoas passam a olhar diferente para a pessoa. Alguns nerds são, e outros não tão nerds, pessoas mais excêntricas. Então ocorre bastante.
ExcluirCinthia!
ResponderExcluirVocê sempre trazendo títulos fabulosos e enriquecedores.
Realmente o autismo é doença séria e a Asperger como sua variação traz complicações de convivência para quem a tem.
Quando ainda cursava a faculdade, lá nos anos 80, fiz estágio com os autistas, porém a Asperger ainda não era diagnosticada como tal, mas já percebia que entre eles, havia vários níveis de autistas e uns mais diferenciados.Talvez por isso o diagnóstico tardio em John. Um sobrevivente!
Vale mesmo a pena a leitura!
“Que o coelhinho traga muito mais que ovos de chocolate! Que ele lhe traga muita paz, amor, saúde, felicidade, compreensão e carinho. Feliz Páscoa!”.
Cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
Me interessei bastante, apesar de saber da data sei muito pouco sobre o assunto, e mesmo sendo um assunto serio o fato dele "aprontar" bastante deve dar um toque engraçado ao livro
ResponderExcluirjá quero ler
O livro me parece ser tão bom que até pensei ser baseado em fatos reais. Mas confesso que sei muito pouco do assunto. Legal que você tenha gostado tanto assim. Pela sua resenha consegui me identificar com a história. Amei.
ResponderExcluirRealmente é uma nova forma de ver os portadores da Síndrome de Asperger, tinha aquela visão de que todos que a possuem seriam mais quietos e retraídos, no caso do John pode-se perceber que é bem diferente, essa conscientização é muito importante para todas as pessoas, imagino o quanto deve ser difícil ir em vários médicos e ninguém descobrir corretamente qual o problema como aconteceu com ele, que família complicada a dele também, né?
ResponderExcluirUm exemplo mesmo, real de superação, de alguém que conseguiu ter um relacionamento e uma carreira bem sucedida, apesar de suas limitações, provando que é possível quando se tem o diagnóstico e busca se conhecer melhor.
Pelo visto ele aprontou bastante, quero saber quais foram as travessuras que andou fazendo que acabou refletindo na cidade inteira e como bolou esses planos, é aquele tipo de leitura necessária para entendermos melhor pelo que passa quem tem Asperger, nada melhor do que a biografia de quem vive na pele.
Cinthia, texto emocionante, cativante, deu vontade de sair correndo e ir comprar o livro. Outros livros que também abordam esse tema de inclusão: "Dibs, em busca de si mesmo" (autismo); "Uma Mente Inquieta" (transtorno bipolar); "Extraordinário" (síndrome genética).
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