06 janeiro, 2015

Um Lugar Perigoso




São muitos os lugares perigosos deste livro. O primeiro é o próprio Rio de Janeiro, onde a história se desenrola. Como de costume nos romances de Garcia-Roza, a cidade é protagonista e sua geografia se torna parte indissociável da trama.Outro lugar de perigos insondáveis é a memória do professor Vicente, figura central neste enredo. Afastado da universidade em razão de problemas de saúde, ele passa os dias em casa e ganha a vida como tradutor, numa rotina aparentemente tranquila. Até que se depara com uma lista cheia de nomes de mulheres.Quem são elas? Foram suas colegas na universidade? Alunas? Por que ele as reuniu numa lista e que relação manteve com elas? São questões que ele não tem como desvendar, pois sofre de uma síndrome em que as lembranças se apagam e a imaginação toma o lugar dos fatos.


Luiz Alfredo Garcia-Roza
Cia das Letras
264 Pgs


Minha 1° leitura do ano, e já iniciei com o pé direito, sobretudo na literatura policial.
Um lugar perigoso é o 11° livro sobre o personagem do delegado Espinosa.


O bacana dessa série é que você pode ler sem estar na sequência, se assim desejar, as histórias são fechadinhas (claro que o primeiro livro é bacana ler, até para conhecer o personagem que ainda era um investigador e colecionador de livros e amante de sebos, esta última característica ainda acompanha o personagem até hoje).


Então corre atrás do primeiro romance do autor, que foi ganhador de muitos prêmios importantes, tais como o Nestlé de Literatura e o Jabuti, com o livro de estreia O Silêncio da Chuva.


Antes mesmo de se tornar um escritor policial, Garcia-Roza atuava no campo da psicanálise e filosofia, sendo um professor e escritor muito respeitado neste campo acadêmico.
Num lugar perigoso, vemos a construção que possivelmente somente alguém da área de psicologia poderia realizar de forma precisa e convincente para os leitores (ponto pro seu Garcia).


Pretendo ser breve ao falar deste título, porque a literatura policial de Garcia-Roza é diferente de tudo o que já li no gênero, na verdade ele imprimiu uma marca toda sua, um tipo de construção, que deixa o gênero mais tradicional de lado (então corre atrás dos livros do cara manolo).


Trabalhando a partir de pouquíssimos elementos, ele construí uma teia intrincada da psicologia do protagonista, que sofre de uma síndrome rara, que afeta sua memória de curto e longo prazo, fazendo assim, ele ter que criar memórias falsas para preencher as lacunas dessa memória móvel amalucada.


O livro na maior parte do tempo mostrará a rotina do professor Vicente, que devido sua doença, acabou por se aposentar de seu antigo emprego como professor de letras numa das universidades do RJ, agora ele trabalha como tradutor em seu apartamento.


Uma outra personagem importante , é a moça (fiquei tão irritada com ela, que minha mente deletou seu nome) de descendência alemã de 28 anos, que cismou em stalkear o pobre professor ermitão, como ela mora em frente ao prédio de Vicente, tendo uma visão ampla de sua sala, acaba por acompanhar praticamente todos os movimentos do professor solitário - (minina, você nunca ouviu os conselhos de sua mãe, sobre não falar com estranhos?).


O plot da história é que Vicente acha num dos vários blocos de anotações espalhados em seu apartamento, uma lista de nomes de 10 mulheres com a data de 2001 (10 anos atrás), e a partir deste momento, ele é tomado por imagens de uma mulher desmembrada e sem rosto que o atormenta dia e noite com pouco descanso.


Aqui entra o delegado Espinosa.
Vicente pede sua ajuda, porque ele acredita ter matado essas mulheres da lista, mas não se lembra ou mesmo pode ter certeza de tal fato, já que sofre de uma síndrome que deixa sua memória nada confiável, porém extremamente inventiva.


O autor conduz o leitor de forma magistral, Garcia-Roza nos faz viver na pele do professor Vicente (ou seria na cabeça), eu me senti totalmente desorientada, não sabendo o que era “realidade ou ficção”, você começa a desconfiar de tudo e de todos.


Você perde todo o controle do enredo e fica totalmente a mercê do autor, eu briguei até onde pude, tentando juntar as peças, até que me rendi e adotei a filosofia de Zeca Pagodinho, deixa a vida me levar seu Garcia-Roza, e vamos ver no que dá.


Ler um lugar perigoso é uma experiência atordoadora, tediosa , mas tudo friamente calculado (precisamos entender quando o autor nos entedia por ser ruim, ou se ele faz com um propósito) um desafio para os leitores mais destemidos, e claro que o livro termina com lacunas, como a mente do professor Vicente (seu Garcia-Roza, o senhor é um fanfarrão).



Trilha sonora que me acompanhou durante a escrita, Los Hermanos e sua música - Do sétimo andar – Álbum Ventura.









7 comentários:

  1. Tô a fim de correr atrás do primeiro romance do autor.... e claro, depois dessa resenha, além de curiosa pra saber o nome da moça "deletada de sua memória" (a stalker) fiquei interessadíssima no livro!
    Montes de beijos, Marcinha
    Você arrasa nas resenhas!
    =D7

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    1. Telma, seus comentários sempre me deixam feliz, é a certeza de que estou no caminho certo. Tu sabe que sou mega insegura quando se trata de escrever publicamente. Hug gatona ruiva

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  2. Gostei de saber Marcia que o livro forma uma teia intrincada e que surpreende o leitor, sempre é bom ler livros assim, eu particularmente, amo! Não conhecia e foi bom conhecer.

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    1. Cinthia é um livro policial bem diferente em seu foco, é uma experiência lê lo. Espero que vc possa curtir. Hug

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  3. Também preciso conhecer esse autor. E eu sou todo gamado nessa coisa mais subjetiva e complexa. Adoro gente meio maluca. Fiquei curiosíssimo!!
    Adorei, Marcia. Super beijos!

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    1. Luan vc também gosta de livro com gente pirada, esse livro é pra vc com toda a certeza. Hug lindão

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  4. Não conhecia esse autor, ou pelo menos não me lembro de conhecê-lo. Mas se ele escreve romances policias e é diferente de qalquer coisa que eu já tenha lido até agora, é claro que eu quero ler. Já disse inúmeras vezes o quanto gosto quando autores exploram problemas psicológicos em seus personagens e acho que essa é uma história que pode me impressionar e me prender facilmente.

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