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14 janeiro, 2015

Sergio Y. vai à América







Narrado por um experiente e sofisticado psiquiatra, Sergio Y. vai à América coloca diante do leitor duas questões fortes do nosso tempo: o poder do testemunho (e o que ele pode esconder em sua aparente carga de veracidade) e o deslocamento. No caso, sexual.
O jovem Sergio Y., bem-nascido e aparentemente sem grandes dramas na sua ainda curta existência - embora se considere infeliz -, é um “paciente interessante”, como diz o narrador. Frequenta o consultório regularmente, rememora aspectos da sua formação familiar, mas um dia desaparece para sempre, abandonando o tratamento. A esse mistério se acrescenta outro, acachapante, que tira a aparente serenidade do psiquiatra e o faz incursionar em uma busca que tem tanto de detetivesca quanto de psicanalítica.
Com elegância e precisão, Alexandre Vidal Porto constrói um romance que é, a um só tempo, uma investigação sobre os caminhos da sexualidade e uma intensa reflexão sobre aquilo que falamos ou deixamos de falar. A memória, a construção da identidade e os papéis que desempenhamos ao longo de nossas vidas aparecem aqui com delicadeza e enorme poder de síntese.





Companhia das Letras
Alexandre Vidal Porto
Págs 184



Foi num desses canais bacanudos sobre livros no youtube (o canal é o Livrogram das meninas Livia e Denise – canal muito legal, dê uma visitada, vocês também irão curtir) , que tomei consciência deste livro (já tinha visto na livraria, mas nem dei bola na ocasião), mas a partir deste vídeo, acabei por criar um imenso desejo de lê-lo, assim o fiz, e cá estou para tentar falar algo sobre ele.


Não pretendo fazer uma resenha propriamente dita, por ser impossível sem cometer spoilers, isso tiraria o prazer de ser levado pelo autor por um caminho que nem em um milhão de anos, eu poderia supor para esta pequena história.


Mas para não deixar vocês totalmente no escuro, posso adiantar que o livro aborda muito sobre o processo psicanalítico, isso na prática, como se nós os leitores estivéssemos presenciando uma sessão de análise como testemunha. Podemos ver toda a conversa e também as considerações pós sessão do psiquiatra solitário.


Temos como narrador da história, o Dr Armando (psiquiatra mega respeitado), viúvo e pai de uma filha que faz faculdade nos EUA.


Armando tem uma vida boa, é bem sucedido profissionalmente e bem resolvido nas demais áreas de sua vida, até que, Sergio Y, rapaz de 17 anos, herdeiro de uma fortuna suntuosa e que vem de uma família tradicional de São Paulo, aparece em seu consultório indicado por uma professora de seu colégio.


Sergio coloca logo de cara a questão que perturba sua existência desde sempre – Tenho tudo para ser feliz, mas não sou, minha alma é permanentemente triste (e agora José?).
Após as muitas sessões de terapia, Sergio Y. decide dispensar o psiquiatra sem maiores explicações, apenas dizendo que ele o ajudou a encontrar seu caminho para sua vida finalmente se resolver, e que ele viajaria para Nova York para fixar residência.
Dr Armando fica putaço, como assim ele foi dispensado, era ele que selecionava quem lhe fosse interessante tratar (ah, garotinho juvenil, sabe de nada, dever ser isso que Dr Armando pensou depois deste “pé na bunda”).


Passa-se mais de um ano, após o “término” do tratamento de Sergio Y (e este Y é uma pista do autor?, desconfio que sim, só fazer os links) sem o Dr Armando ter contato com seu ex paciente, e acaba acontecendo um episódio brabo, que colocará o psiquiatra novamente na vida desse sujeito e de sua família.


O que esperar desta pequena obra? - Esperem um olhar na direção do terapeuta, eu pessoalmente nunca li algo que colocasse o terapeuta em foco e que suspeitasse de este não ter todas as ferramentas e respostas para todas as questões humanas, isso é muito interessante.
Também espere uma grande surpresa no desenrolar do enredo, e muitas reflexões, muitas mesmo.


Bem, vou parar por aqui, Não quero estragar a experiência de um possível interesse da parte de vocês por este livro, mas para compensá-los , vamos a algumas frasitas do livro.



...esta velhice aparente precoce é comum entre os psiquiatras. Absorvemos os problemas dos pacientes.Envelhecemos por eles”


Não é apenas mal que a gente faz sem perceber, ás vezes a gente faz coisas boas também”


Nas poucas vezes que fui a um estádio de futebol, não consegui evitar o pensamento de que cada uma daquelas pessoas – sem falar nas moscas, nas baratas, nas formigas, nas bactérias, em tudo o que está vivo ali dentro daquele estádio – vai morrer, cada um na sua data, cada um de sua maneira. Todos desaparecerão.É óbvio , mas a gente se esquece disso. Deve ser algum mecanismo de defesa que a gente tem, mas não sabe. É como ir a um desses hipermercados num sábado à tarde e ,na fila do caixa, esperando, cercado de carrinhos transbordantes, dar-se conta de que toda aquela comida vai virar cocô. Ninguém pensa nisso, mas assim é”




Trilha sonora que me acompanhou durante a escrita desta resenha - Unforgiven – Metallica – The Black Album






14 comentários:

  1. Não conhecia o livro, mas WOW, mal posso esperar para ler. Adoro histórias que tem a psicologia como temática ou abordagem principal. Acho que esse tipo de leitura é exatamente o que eu estou precisando agora, algo que me leve a refletir e ter uma outra percepção da vida.
    Espero ter a oportunidade de ler em breve, ótima resenha!

    Beijos!

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    1. Mallu, então você é como eu, adoro livros que tem psicologia e afins.

      Este livro tem camadas muito interessantes, que não pude falar por aqui, mas leia e me diga se curtiu.

      Hug :D

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  2. O fato de mostra de uma forma tão pouco usual me intrigou, parece ser muito bom (para aqueles que gostam do tema).

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    1. Cinthia você disse o fundamental para gostar deste livro - se não curte psicologia e o ambiente de análise, não tem como agradar este leitor.

      O livro trabalha muito bem com a figura do psicanalista, vale mesmo dar uma conferida no livro.

      Hug

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  3. Como disse a Mallu... WOW!
    Sou todo metido a simpatizante da psicologia... Então já quero MUITO ler esse livro.
    Acho que a sinopse diz o bastante e sua resenha atiça ainda mais a vontade, Marcia!
    Amei. Depois do Ken Follet, esse é meu proximo autor. E acho que vou amar.

    Abraços e beijos.

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    1. Luan, somos dois "metidos a simpatizantes da psicologia",rs

      Leia e me diga se gostou, e bóra trocar figurinhas sobre ele.

      Hug

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  4. Marcinha,
    Eu não estou APENAS interessada depois dessa sua resneha, estou EXTREMAMENTE NECESSITADA desse livro.
    Não vou colocar na "lista de desejados"... vou procurar comprá-lo tão logo seja possível!
    Sua resenha (não resenha) foi sensível (por me dar um panorama geral) e inteligente (por não dar spoiler algum)... enfim... tu é a mina Marcinha Krakuda!
    Tô DOIDA por esse livro.
    beijoconas

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    1. Telma

      Corre pra livraria (como não tenho o livro físico, li digital), ainda mais você que é dá área, tenho certeza que irá gostar.

      Foi muito complicado fazer esta resenha, porque o mínimo que eu falasse, poderia estragar a experiência de leitura.

      Quero muito ver tua opinião sobre ele.

      Hug :D

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  5. Márcia, não preciso nem dizer q a trilha sonora escolhida para a resenha foi oq mais me deixou empolgada, hehehehe \m/ ... Além da sua resenha estar incrivelmente boa, me deixou com uma imensa vontade de conhecer e ler esse livro (confesso q nunca tinha ouvido falar dele) mas isso é passado, hahahaha ... Com ctz me deixou meeega curiosa e querendo saber mais e mais ...

    BJoooooooo

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    1. Isa

      Sabe que não vivo sem música, e acabo incorporando esse vício em minhas resenhas, espero que as pessoas também notem as dicas musicais, assim como você notou.

      E mate logo esta curiosidade, leia o livro :D

      Hug

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  6. Acho que esta é a primeira vez que vejo uma resenha deste livro na blogosfera, e dei pulos de alegria ao ler. Faz tempo que estou louca por este livro, mais especificamente, desde que vi uma entrevista com o autor no Programa do Jô (faz tempo). Gosto muito de tramas que envolvem psicologia, que analisam algum aspecto do ser humano, enfim. Pelo que pude perceber, parece que o livro me agradaria em cheio. Preciso para ontem!

    Beijos, Livro Lab

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  7. Aline, como eu já disse pra Telma idealizadora do blog, eu sou uma nota dissonante, acabo por buscar livros mais diferentes.

    E vai fundo, o livro é muito bem escrito e surpreende no desfecho.

    Hug :D

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  8. Marcia, ótima resenha, adorei, eu também achei muito legal, ele nos mostrar este lado de dentro da analise

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    1. Oi Gilberto, que bom que curtiu o livro. Gosto da perspectiva calma que o autor escolheu pra falar deste tema difícil e de enorme preconceito.

      Hug

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